Jesus não pertenceu às classes que interpretavam minuciosamente a Lei, mas ensinou com profundidade. Note que Cristo Não se distinguiu como "agitador das massas". Ele não comprometeu sua mensagem com apelos em reuniões populares, práticas ritualistas ou manobras políticas. O Mestre confiou sua Causa aos prolongados e pacientes processos de ensino e de treinamento. Sim! Ele não se distinguiu primeiramente como orador, reformador, ou chefe... Mas, como Mestre: "a principal ocupação de Jesus foi o ensino. Algumas vezes ele agiu como curador, outras vezes operou milagres, pregou frequentemente; mas foi sempre o Mestre. Ele não se pôs a ensinar porque não tivesse outra coisa a fazer; mas, quando não estava ensinando, estava fazendo qualquer outra coisa. Sim, ele fez do ensino o agente principal da redenção” (J. M. Price).
A ênfase que Jesus deu ao ensino ressalta do fato de ser reconhecido como Mestre, chamado de Mestre, Professor ou Rabi; a mesma idéia geral expressada por Nicodemos quando disse: "Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus" (Jo 3.2). Nos Evangelhos, Jesus é chamado Mestre nada menos que 45 vezes. Somando-se todos os termos equivalentes a Mestre, temos o total de 61. Fala-se em Jesus ensinando 45 vezes; e 11 pregando. E, assim mesmo, pregando e ensinando (Mt 4.23): "ensinando em suas sinagogas e pregando o evangelho do reino". Outrossim, Jesus a si mesmo se chamava Mestre (Jo 13.13). Também dizia ser "a luz", vocábulo que traz a idéia de instrução.
Outra indicação dessa ênfase sobre o ensino é a terminologia empregada para descrever os seguidores e a mensagem de Jesus. Não são eles chamados súditos, servidores ou camaradas. A palavra cristão só é empregada três vezes no Novo Testamento para caracterizá-los e, assim mesmo, uma vez, como zombaria. No entanto, vemos a palavra discípulo, que significa aluno ou aprendiz, empregada 243 vezes para referir-se aos seguidores de Jesus. A mensagem de Jesus diz-se ser ensino (39 vezes) e sabedoria (06 vezes).
Também se revela a ênfase do Mestre em ensinar no modo entusiasta e até agressivo pelo qual externou sua atividade educadora. Ele ensinava no Templo, nas sinagogas, no monte, nas praias, na estrada, junto ao poço, nas casas, em reuniões sociais, em público e em particular. "Relutava mesmo em curar, preferindo aproveitar a oportunidade para apresentar sua mensagem" (Price). Mateus ressalta: "andava Jesus por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas deles, e proclamando as boas-novas do reino, e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo" (Mt 4.23).
Toda a obra de Jesus estava envolta numa atmosfera didática, não tanto em preleções unilaterais, pois observamos que os ouvintes se sentiam à vontade para lhe fazer perguntas e ele, por sua vez, lhes propunha questões e problemas. Assim, Cristo preparou um grupo de Mestres para que levassem avante sua obra: "no decorrer dos últimos dias de sua trabalhosa vida, ele se dedicou ao ensino e preparo do pequeno grupo de discípulos que a ele se agregara” (Price). Assim, Jesus enviou seus discípulos aos confins da terra para que fizessem novos discípulos (se matriculassem na Escola de Cristo), para batizá-los (uma ordenança educadora) e para instruí-los na observância de todas as coisas que o Mestre tinha mandado (Mt 28.19-20).
Pensemos sobre nossa dedicação ao aprendizado em Cristo... Quanto tempo semanal dedicamos para aprender aos pés do Mestre? Jesus viu no ensino a gloriosa oportunidade de formar os ideais, as atitudes e a conduta dos seus seguidores. Não pensemos diferente.
Rev. Ângelo Vieira da Silva
Adaptado do livro "A pedagogia de Jesus", de J. M. Price