O ANJO GABRIEL


Estudar angelologia, ramo da teologia que estuda os seres angelicais, é um grande desafio. Ainda mais hoje, quando o ensino bíblico nos púlpitos é escasso e muitos cristãos podem ser facilmente iludidos por fundamentos teológicos dissimulados. Para evitar um desvio da verdade quanto ao tema, pretendo colaborar com a compreensão bíblica acerca da organização dos seres angelicais em breves pastorais.

Por “organização” busca-se compreender o “sistema”, “o modo pela qual se organizam” os seres angelicais, isto é, a estrutura na qual são designados. Dentro desse aspecto fundamental, a angelologia bíblica oferece fundamentos para crermos que Deus organizou os seres angelicais em classes ou categorias, ordens ou graus, multidões ou companhias, como uma hierarquia. Após aprendermos sobre os querubins e serafins, principados, potestades, poderes, tronos e domínios/soberanias, continuemos o estudo pelo anjo Gabriel.

A bíblia apresenta poucos nomes de anjos. Sem dúvida, Gabriel é um dos mais conhecidos, seja pelos relatos bíblicos, seja pelas citações extra bíblicas (no Islamismo, em apócrifos ou em filmes, por exemplo). Dentre muitos outros, no filme “Constantine” (2005) Gabriel é um anjo que pretende salvar os homens através do sofrimento, ajudando o filho do Diabo vir ao mundo. Na série “Supernatural” (2005), ele é um arcanjo que não escolheu um lado, Miguel ou Lúcifer, mas decidiu se esconder na Terra, se passando pelo deus brincalhão nórdico Loki. Tais menções, dentre tantas que seriam possíveis, revelam a necessidade de uma angelologia ortodoxa, que verdadeiramente ensine a Igreja ante a tantos enganos. Valho-me da citação de Paulo (Gl 1.8): “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema”.

Ao examinarmos as Escrituras, a relevância do anjo Gabriel é notória por dois motivos essenciais: (a) o nome: diferente da maioria angelical, ele é mencionado nominalmente (assim como Miguel e Satanás), aparecendo em quatro textos da Escritura. Gabriel (Gabriël, heb.; Gabriël, gr.) significa “homem, guerreiro ou lutador de Deus”; e (b) a função: ao que parece, a função principal de Gabriel é servir de intermediário e intérprete de revelações divinas, um poderoso embaixador das promessas do Senhor.

Gabriel trouxe a Daniel a notícia do futuro de Israel (Dn 8.16; Dn 9.21), avisou Zacarias do nascimento de João Batista (Lc 1.19), declarou ao mundo a notícia do nascimento de Jesus Cristo (Lc 1.26). Note que o mesmo Gabriel que instruira a Daniel sobre a chegada do Messias, séculos depois, está presente ante Maria para dar prosseguimento ao cumprimento da profecia. Em todas essas referências bíblicas é possível atestar o poder de sua aparição, a inteligência em sua comunicação e a agilidade no cumprimento de sua missão.

De um jeito ou de outro, os anjos sempre estiveram ao nosso redor. Seja na história ou nas estórias, na Bíblia ou em outros escritos religiosos, em filmes ou séries de televisão, os anjos estão lá. Assim, em meio a esse vasto e observável universo angelical, oro para que a Igreja de Jesus veja os seres angelicais como eles realmente são: seres criados, espirituais, incorpóreos, racionais, morais, poderosos, imortais, numerosos e organizados (querubins, serafins, principados, potestades, poderes, tronos e domínios/soberanias), nomeados (Gabriel, o arcanjo Miguel, Satanás) ou não, sejam eles eleitos ou reprovados.

Rev. Ângelo Vieira da Silva
--------------------------------------------------------------------------------------

Leia mais sobre angelologia bíblica clicando aqui. 

A ADORAÇÃO BÍBLICA E OS SENTIDOS HUMANOS


O estudo de temas que abarcam a adoração deve conduzir a um estilo de vida que abarca o homem em todo seu ser: corpo, alma e vontade (Dt 6.5). A adoração bíblica englobará tanto os elementos da alma, como os do corpo. Por isso, pode-se dizer que a adoração é uma experiência tanto do interior como do exterior do homem; o que se declara com o coração se materializa com atitudes. De fato, são encontrados muitos textos bíblicos que falam da adoração ligada à busca de santidade e do amor a Deus (interior), bem como do serviço religioso e a vida de comunhão com os irmãos (exterior). Essa ligação, em muitos textos da Escritura, será feita com os sentidos humanos.

Porventura, não são os sentidos do homem a visão, a audição, o paladar, o olfato e o tato? Sim, são esses. O homem faz contato com o mundo material através de seus sentidos. Ele vê tudo aquilo que reflete luz; ele ouve tudo o que possui vibrações, aquilo que seus tímpanos podem capitar; ele discerne tudo que é doce ou salgado pelo paladar; ele reconhece um bom ou mal perfume pelo olfato; enfim, ele toca as coisas e diferencia a matéria. Não sendo diferente tal manifestação com a adoração bíblica, pode-se perguntar: qual a ligação dos sentidos humanos com a adoração nas Escrituras Sagradas?

1) VENDO A DEUS (Jo 1.18; Is 6.1; 1 Jo 3.6)

Segundo o apóstolo João ninguém, jamais, viu a Deus. Como bem declarou o afamado escritor Dr. Russel Shedd*, “ninguém jamais viu o que os olhos físicos não podem ver”. Todavia, a presença e glória divinas comunicam-se com aqueles que estão dispostos a se submeterem ao Deus Todo Poderoso (Is 55.6), e somente a eles. Se alguém não buscar ou perceber essa presença divina... bem, leia Dt 31.18 e Sl 102.2.

Na Bíblia, homens santos viram a Glória de Deus,** a exemplo do profeta Isaías. Os textos joaninos denotam que quando se vê a Cristo se vê a glória do Senhor. Na verdade, parafraseando tais textos, pode-se dizer que Cristo é aquele que santifica os lábios que de outra forma estariam impuros para cantar louvores ao Senhor; que Deus habita no meio de seu povo, pois a Igreja é o Santuário do Espírito Santo, como o próprio apóstolo Paulo afirma em 1 Co 3.16-17. Assim, "a vinda de Cristo deu início a uma nova era, mas não a uma nova adoração e sim a uma adoração mais completa" (Weller). Nesse sentido, adorar é comparável ao processo de ver. A visão espiritual formará a imagem de Cristo em cada um dos cristãos. Como adoradores, se tornarão mais semelhantes a Jesus (2 Co 3.18; Cl 3.10).

2) OUVINDO A DEUS (Jo 8.47; Mc 9.5-7)

A comunicação, através da língua e do ouvido, é a chave do relacionamento humano. Semelhantemente, Deus se relaciona e/ou se comunica com seus adoradores. Ora, adorar pressupõe que o Senhor se comunica e que os homens são capacitados a ouvir sua Voz que não emana de nenhum ser criado, mas somente do Criador, sendo perceptível apenas pelo Espírito Santo de Deus. Quando se cultua a Deus deve-se esperar ouvir a Voz que se faz audível ao ouvido do homem interior através da Palavra inspirada.

Em toda a Bíblia, desde o Éden, Deus se comunica com os homens. Esses o ouvem e se comunicam com Deus. Abraão, por exemplo, sabia que era Deus quem pedira seu filho e não uma voz oriunda do inferno (Gn 22.2). O próprio Jesus é chamado "logos", que significa "palavra" (Jo 1.1, 14; 1 Jo 1.1; Ap 19.13). Em suma, quem é de Deus ouve as palavras de Deus (Jo 8.47). Esse, por ser real, não se guarda em silêncio. Deus se comunica (Sl 19.1). Quem tem ouvidos, OUÇA, o que o Espírito diz às igrejas (Ap 2.7, 11, 17, 29; Ap 3.6, 13, 22).

3) PROVANDO A DEUS (Sl 34.8; 1 Pe 2.2-3, Jo 6.27, 35, 37; Jo 4.34)

Alguns textos da Bíblia apontam para uma adoração através da experiência de provar ao Senhor, no sentido  literal de "saborear". Talvez alguém pergunte: "a Bíblia falaria sobre isto?" O que dizer, por exemplo, do genuíno leite espiritual de Pedro? Em 1 Pe 2.3 a palavra para "experiência" é "saboreastes". Isso significa que Deus precisa ser experimentado com mais profundidade em nossa adoração. É o que a expressão "bondoso" conotará. Há outros exemplos, como o da mulher samaritana, a qual Jesus incentivou a beber da água da vida (Jo 4.10).

Alimentar-se de Cristo significa recebê-lo pela fé e dele desfrutar, pois é o Pão da vida (Jo 6.27, 35, 37). Sem dúvida, o ato de comer pão tem importância secundária. O que realmente importava era a comida substancial que consistia em fazer a VONTADE DO PAI (Jo 4.34). Como não lembrar da tentação no deserto (Mt 4.3)? Portanto, deleite-se em comer desse maravilhoso maná espiritual oferecido por Cristo. Tenha apetite espiritual. Como bem destacou Shedd, “o cristão recebe e digere o pão que vem do céu por meio da comunhão pessoal, leitura das Escrituras, louvor, gratidão, oração e obediência...".

4) EXALANDO O BOM PERFUME PARA DEUS (2 Co 2.15)

"Venho Senhor minha vida oferecer, como oferta de amor e sacrifício...". Costuma-se cantar muito esse louvor nas igrejas. Note: ela fala de um outro sentido ligado a adoração. Sim, Deus se agrada do bom perfume de sacrifícios a ele oferecidos; é necessário que a Igreja exale tal perfume, pois essa figura ensina que é Deus quem recebe a adoração, o que me lembra a canção do poeta e pastor Daniel de Souza: "somos um jardim diante do Senhor... Somos o bom perfume de Cristo, exalando o cheiro de vida".

Contudo, há um outro lado da moeda: quando a adoração não é um bom perfume, é um “mau-cheiro” (Is 1.13-15; Ml 2.17). O profeta Isaías viu a banalização do sagrado; os afazeres cultuais no Templo eram relaxados e sem profunda contrição na presença da glória de Deus. “Sacrifícios cheiram mal a Deus, inevitavelmente, quando sofrem os efeitos nefastos de corações que abrigam iniquidade sem arrependimento” (Shedd).

Entenda. Cristo foi O sacrifício, feito de uma vez por todas, por sua Igreja. Assim, tudo que o povo de Deus fizer pautado nesse sacrifício supremo será um bom perfume ao Senhor, porque é por meio de Jesus (Hb 13.15-16). A Igreja precisa ser o bom perfume de Cristo que exala aroma de vida para a vida (Ap 4; Ap 5).

5) TOCANDO A DEUS (Mt 9.21, Mt 14.36; Mc 3.10; Lc 22.51; I Jo 5.18)

Tocar é ter contato com, é sensibilizar, comover. Na adoração bíblica é possível tocar em Deus. A leitura dos textos supracitados não se aplica a um desejo de tocar literalmente o Senhor, como alguns imaginam ser possível na adoração contemporânea, mas sim, desejar tocar a Deus no sentido de se sensibilizar com a sua presença, entendendo que somente Ele pode ajudar completamente. Tais textos ensinam três princípios fundamentais: (1) que se deve tocar o Senhor; (2) que o Senhor toca aqueles que o buscam; e (3) que o maligno não tocará naqueles que são tocados pelo Senhor.

Uma vez que se busca ter contato com Deus pode-se ter a certeza de que Ele parará, voltará e olhará para as necessidades humanas. Se a Igreja o buscar, Ele se deixará achar, pois quer curar as feridas que machucam. Os homens podem ser tocados por Cristo, ainda que não mereçam.

Esse é o princípio básico da adoração bíblica e os sentidos humanos na Escritura Sagrada.

Rev. Ângelo Vieira da Silva
Texto baseado no Livro “Adoração Bíblica”

PARA PENSAR:

“Adorar é avivar a consciência através da santidade de Deus, alimentar a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação com a beleza de Deus, abrir o coração ao amor de Deus e render a vontade aos propósitos de Deus” (Willian Temple, ex-arcebispo anglicano). 

SANTA CLAUS, O PAPAI NOEL DO NATAL

Com chegada do Natal nota-se um nítido incômodo entre muitos cristãos sobre a tradição do “Papai Noel”. As objeções para essa tradição incluem o seguinte: (1) Papai Noel é uma figura mística com atributos divinos, tais como a onisciência e a onipotência; (2) quando as crianças aprendem que “Papai Noel” não é real, elas perdem a fé nas palavras dos seus pais e em seres sobrenaturais; (3) “Papai Noel” distrai a atenção de Cristo; (4) a estória de “Papai Noel” ensina as crianças a serem materialistas, etc. Em face de tais objeções, entretanto, pode-se dizer algo bom do "Papai Noel"? Imagino que sim.

Antes de examinar o cerne de tais objeções, deve se notar que o Natal pode ser celebrado sem o “Papai Noel”. Retire-o e o Natal permanece intacto. Por outro lado, se retirarmos Jesus o que sobrará é uma festa comum. Sejam quais forem nossas posições individuais no trato do assunto, é mister reconhecer algumas verdades sobre “Santa Claus”:

(1) Não existe dúvida alguma de que o “Papai Noel”, na sua presente forma, é um mito ou conto de fada. Sim, há indícios que houve realmente um “Papai Noel” com o nome de “Santa Claus”; essa é uma forma anglo-saxã do holandês “Sinter Klaas” que, por sua vez, significa “São Nicolau”. Ele, Nicolau, foi um bispo cristão, no quarto século, sobre quem pouco sabemos. Aparentemente, assistia ao Concílio de Nicéia (325 d.C.). Uma forte tradição sugere que ele demonstrava uma singular bondade para com as crianças. Por outro lado, o velho vestido de vermelho puxando um trenó conduzido por veado voador é puro mito, ainda mais com as “novas mitologias” sugeridas em novas adaptações do conto em séries e filmes.

Deve-se admitir que contar às crianças que “Papai Noel” pode vê-los em todo tempo, que sabe se elas foram boas ou más em seu comportamento, etc., está errado. Também é verdade que os pais não deveriam contar a seus filhos a estória de “Papai Noel” como se fosse verdade. Contudo, as crianças com menos de sete ou oito anos podem brincar de “fazer de conta” e tirar disso divertimento como se elas pensassem que é real. De fato, nessa idade elas estão aprendendo a diferença entre o “faz de conta” e a realidade. Crianças mais jovens ficarão fascinadas pelos presentes que são descobertos na manhã de Natal, debaixo de uma árvore na qual lhes foi dito que são do “Papai Noel”; porém, não tirarão conclusões sobre a realidade de “Papai Noel” por meio dessas descobertas.

2) Quando as crianças aprenderem que Papai Noel não é real isso poderá perturbá-las um pouco. É, por isso, que se deve dizer às crianças que “Papai Noel” é “faz de conta”, tão logo elas tenham idade suficiente para fazer perguntas a respeito da realidade. Antes de ser uma pedra de tropeço para acreditar no sobrenatural, Noel pode ser um trampolim. Diga às crianças que enquanto Papai Noel é uma faz de conta, Deus e Jesus não os são. Diga-lhes que, enquanto Papai Noel só pode trazer coisas que os pais podem comprar ou fazer, Jesus pode lhes dar o que ninguém pode – um amigo que sempre estará com eles, perdão para as coisas erradas que eles fazem, vida num lugar maravilhoso com Deus, para sempre, etc.

Siga as sugestões acima e não mais será Papai Noel um motivo para distraí-los de Cristo. Diga a seus filhos porque Papai Noel dá presentes e porque Deus nos deu o presente mais maravilhoso, Cristo. E lembre-se: a estória de Papai Noel só é melhor contada quando é usada para encorajar as crianças a serem abnegadas e generosas.

Rev. Ângelo Vieira da Silva
Texto adaptado.