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BEM-AVENTURADOS OS PERSEGUIDOS
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. 11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. 12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.10-12; Lc 6.22-23)
Os versículos selecionados nos Evangelhos de Mateus e Lucas apresentam o cristão como alvo de assegurada perseguição. Naturalmente, uma leitura breve dessa passagem pode induzir a crença que qualquer tipo de perseguição esteja em seu foco; ou, se referindo apenas aos líderes perseguidos, os profetas. Não é salutar essa interpretação. O texto também não é direcionado aos perseguidos políticos, pela cor, pelo gênero, dentre outros. Não se fala aqui de qualquer tipo de sofrimento, mas de uma perseguição religiosa. A perseguição se dá por causa de Cristo: “sereis odiados de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mc 13.13). Esse é o foco da bem-aventurança.
Então, o que essa bem-aventurança ensina precisamente? Vejamos as palavras usadas por nosso Senhor: “perseguidos/perseguirem/perseguiram” (dioko, gr.) é uma atitude de “hostilidade”, aquele que é contrário, provocador; “injuriarem” (oneidizo, gr.), repetido duas vezes, refere-se a “maus-tratos”, o que, em nossa legislação, inclusive, é crime; “mentindo” (pseudomai, gr.) é o mesmo que “falar falsidades”; “o disserem todo mal” (poneros, gr.) amplia a perseguição, pois fala de “uma natureza má”; “odiarem” (miseo, gr.) e “detestar” são sinônimos. Eis uma experiência de ódio e abominação; “expulsarem da sua companhia” (aphorizo, gr.) é o mesmo que “impor limites por má reputação”. Daí o sentido de “rejeitarem” (ekballo, gr.), “expulsar ou expelir”. Enfim, todas essas palavras expressam uma resoluta verdade: a perseguição à Igreja fiel é dura. A Igreja será odiada por seu amor a Jesus: “Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?”... “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Mt 10.25; Tg 4.4).
Além disso, Jesus declarou que seus discípulos são perseguidos “por causa da justiça”, “por minha causa”, “por causa do Filho do Homem”. O motivo é a fé em Jesus Cristo. Como expressou o discípulo amado, “irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos odeia” (1 Jo 3.13), “se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. Quem me odeia odeia também a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai. Isto, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo” (Jo 15.18-25). Assim, essa bem-aventurança ensina que são extremamente felizes os cristãos que desenvolvem uma fé genuína em Jesus Cristo e que, por causa dele, são perseguidos por sustentarem os padrões divinos pela Palavra. Independente das situações, os perseguidos se mantêm firmes e fiéis ao seu Senhor (Sl 73.26).
Finalmente, pergunto: qual é a promessa dessa bem-aventurança? Duas expressões definem a promessa: “porque deles é o Reino dos céus” e “é grande o vosso galardão nos céus”. São frases sinônimas, pois a promessa é o grande galardão do Reino dos céus (Rm 8.18; 1 Pe 1.3-4). Portanto, encerro o texto da sétima bem-aventurança lembrando uma citação do apologista Tertuliano de Cartago, província romana na África (160-225 d.C.): “Não é o sofrimento, mas a causa do sofrimento que faz o mártir”.
Rev. Ângelo Vieira da Silva
BEM-AVENTURADOS OS PACIFICADORES
“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9).
É impossível que essa bem-aventurança esteja confirmando que o mundo caminhará até a paz mundial ou ausência total de guerras. Também não é possível que denote apenas um sentimento ou estado passivo de paz. Veja: as Sagradas Escrituras demonstram que o mundo não caminhará para paz mundial, mas para o aumento crescente da iniquidade (Mt 24.3-12): “No monte das Oliveiras, achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dele os discípulos, em particular, e lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século. E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores. Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos”.
“Pacificadores” (eirenopoios, gr.), remete ao “fazer algo superior” para se alcançar “segurança e harmonia”. Isso é paz ou pacificar. É o que se deseja com o cumprimento judaico “shalom”, por exemplo. Portanto, parafraseando o comentarista bíblico Simon Kistemaker, a sétima bem-aventurança ensina que são extremamente felizes os cristãos que servem ao Deus da Paz (1 Co 14.33; 1 Ts 5.23), que aspiram viver a paz com todos os homens (Rm 12.17-18), proclamam o evangelho da paz (Ef 6.15; Is 52.7) e modelam suas vidas como a do Príncipe da Paz (Jo 13.15; Is 9.6-7). A verdadeira segurança e harmonia são alcançadas com o Supremo Bem. Daí a mensagem de reconciliação (2 Co 5.20): “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus”.
Mas, qual é a promessa dessa bem-aventurança? Ora, os pacificadores serão chamados filhos de Deus: “vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo” (1 Jo 3.1). Eis uma palavra de reconhecimento, como da Igreja Primitiva chamada de “cristãos” (At 11.26). Historicamente, “ser filho de” é o mesmo que “ter a natureza de”. Assim, os cristãos são reconhecidos por seus valores e atitudes aliadas ao Cristo do Deus de paz. A paz é um fruto do Espírito (Gl 5.22). Ora, o pacificador não é aquele que apenas recebe a paz e a conserva diante dos momentos difíceis da vida. É uma atitude, uma conduta ativa. O pacificador é aquele que promove a paz, não meramente que a sente, a ama ou a deseja: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”... “A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento. 18 Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz” (Hb 12.14; Tg 3.17-18).
Encerro o texto sobre a sétima bem-aventurança lembrando uma frase do Rev. Augustus Nicodemos Lopes, doutor em interpretação bíblica e vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil: “Deus não prometeu uma viagem tranquila, apenas uma chegada segura”.
Pense nisso.
Rev. Ângelo Vieira da Silva
BEM AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO
“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5.8).
Essencialmente, a sexta bem-aventurança não expressa um coração limpo mediante uma limpeza exterior, como muitos podem achar. Ora, é possível que a religião ofereça a possibilidade de uma limpeza exterior do coração, tal como o farisaísmo do Novo Testamento: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança! Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade”... “Abominável é ao SENHOR todo arrogante de coração; é evidente que não ficará impune” (Mt 23.25-28; Pv 16.5). Jesus, porém, fala do coração, sede da vontade e caráter (pensar, sentir, querer). Ao contrário dessa perigosa interpretação, o Senhor fala de uma limpeza interior do enganoso coração: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). O exterior precisa ser uma revelação do interior.
O termo “limpo” (katharos, gr.) refere-se à “liberdade, aquilo que não possui qualquer mistura”. Na perspectiva judaica, o coração é a sede da “vontade e caráter”: “Bem sei, meu Deus, que tu provas os corações e que da sinceridade te agradas; eu também, na sinceridade de meu coração, dei voluntariamente todas estas coisas; acabo de ver com alegria que o teu povo, que se acha aqui, te faz ofertas voluntariamente. SENHOR, Deus de nossos pais Abraão, Isaque e Israel, conserva para sempre no coração do teu povo estas disposições e pensamentos, inclina-lhe o coração para contigo; e a Salomão, meu filho, dá coração íntegro para guardar os teus mandamentos, os teus testemunhos e os teus estatutos, fazendo tudo para edificar este palácio para o qual providenciei” (I Cr 29.17-19). Assim, no sentido espiritual das bem-aventuranças, os limpos de coração serão os “homens livres do pecado, que não se misturam com a iniquidade”: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração”... “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (Tg 4.8; Hb 3.12).
Finalmente, pergunto: qual é a promessa dessa bem-aventurança? “Porque verão a Deus’’, responde Jesus. Não verão “literalmente” a Deus (Ex 33.20), mas contemplarão a sua glória em Jesus: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”...“Quem subirá ao monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente” (1 Jo 3.2; Sl 24.3-4). Verão o Pai no Filho: “Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. 9 Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.8-9). De fato, com efeito, “Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo” (Sl 73.1).
Encerro o estudo da sexta bem-aventurança lembrando um pensamento do afamado cientista Benjamim Franklin, calvinista e um dos líderes da revolução americana: “Limpe seus dedos antes de apontar para minhas manchas”. Parafraseio aqui: que seu coração seja limpo antes de exigir a limpeza de outros corações.
Pense nisso.
Rev. Ângelo Vieira da Silva
BEM AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).
A quinta bem-aventurança não é uma menção a qualquer misericórdia humana desassociada de Jesus, ou divina que alcança todos os homens. O homem natural pode ser misericordioso, mas sua filantropia não resulta de uma experiência com Deus (At 28.2; At 27.3). Ora, o Mestre fala da misericórdia que resulta de uma relação espiritual com o Senhor. Igualmente, a Bíblia descreve que Deus é amor, o Pai das misericórdias (2 Co 1.3), e muitos acreditam que a misericórdia divina alcançará todos os homens no fim, no dia do juízo. Bem, “alcançar misericórdia” é obra da graça divina, não das obras humanas: “Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia... Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”... “Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Rm 9.15-18; Tg 2.13).
Compreenda: o termo “misericordiosos” (eleemon, gr.) remete àquele que “oferece ou busca ajuda em tempo de aflição”. É mais do que “sentir compaixão na miséria do outro”, pois também envolve àquele que “sente sua própria miséria e precisa de compaixão”. São dois lados de um resoluto ato, não meramente um sentimento ou estado. Como bem declarou o comentarista bíblico Ralph Earle, misericórdia é a “bondade em ação”. O Jesus misericordioso nos ama e decidiu provar esse amor por meio de seu sacrifício: “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.17). Agora, igualmente, os cristãos devem ser misericordiosos uns com os outros (Rm 15.7; Ef 4.32; Cl 3.12) e com o próximo que ainda não conhece o Senhor (Gl 6.10). Desse modo, a quinta bem-aventurança ensina que são extremamente felizes os cristãos que, reconhecendo sua condição de miséria espiritual, recebem o amor de Deus em seu favor e que são, obrigatoriamente, agentes da mesma misericórdia em relação ao próximo, como sinal de gratidão. É por isso que a parábola do credor incompassivo é perfeita para o entendimento da quinta bem-aventurança: “Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?” (Mt 18.32-33). Portanto, como a oração do Senhor expressa, “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores... Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6.12, 14-15).
Finalmente, o Senhor ensina que seu discípulo deve exercer a misericórdia; não é uma opção. Nesse sentido, o cristão misericordioso com seu próximo experimentará a misericórdia divina a cada dia. Para com o benigno Deus será benigno (II Sm 22.26) e cumprirá sua promessa. Qual? Ora, “alcançarão misericórdia”, o ciclo da misericórdia se renovará a cada manhã: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22-23).
Rev. Ângelo Vieira da Silva
BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”.
“Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos”.
(Mt 5.6; Lc 6.21a)
Jesus revelou que aqueles que têm fome e sede de justiça são bem-aventurados. É um equívoco compreender as palavras do Senhor como se referindo a alguma justiça no homem ou em suas obras. Na verdade, o Senhor censurou tal pensamento ao exortar os “fartos”: “Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome...” (Lc 6.25a). Entenda: em termos espirituais, as Sagradas Escrituras descrevem que a justiça humana não é a justiça divina. O homem natural não é justo em si: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam” (Is 64.6). Aliás, a situação espiritual deste homem é judicialmente indefensável (Jr 2.22; Sl 49.7). Seria um engano pensar que a justiça divina se fundamenta em obras humanas. Como bem ressaltou o teólogo batista Adolf Pohl, “a justiça é dádiva, que não se conquista com esforço, e sim se recebe de presente”. Portanto, a justiça divina só pode ser imputada ao homem: “Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gn 15.6; leiam também Rm 4.3-9).
O termo “justiça” (dikaiosune, gr.) está ligado a ideia da “condição de ser aceito por Deus” ou “dar a cada um o que é devido”, esse último num sentido judicial. Portanto, a partir do contexto das bem-aventuranças, são extremamente felizes os cristãos “considerados justos pelo sacrifício de Cristo” e que comunicam tal justiça ao mundo sedento, pois é a misericórdia do Senhor a base dessa justiça. Em Cristo ou fora dEle, Deus dá a cada um o que lhe é devido. No sentido forense, judicial, os cristãos são justificados por Jesus. Ele é a justiça de seu povo: “tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”... “Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa” (Mt 20.28; Jr 23.6). Lembre-se: Ele pagou a nossa dívida (Is 53.5-6).
Por outro lado, a bem-aventurança também ensina que os cristãos devem viver justamente. Num sentido ético, Jesus alertou que os justificados por Deus possuem uma conduta compatível com tal graça. O próprio contexto do "sermão do monte" demonstra essa verdade: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus... Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus... Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”... “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste... buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 5.10, 20, 48; Mt 6.1). Como bem declarou o teólogo reformado Simon Kistemaker, “embora seja impossível que as obras justifiquem alguém, é igualmente impossível que uma pessoa justificada possa viver sem praticar boas obras”.
Finalmente, a pergunta inevitável é: qual é a promessa dessa bem-aventurança? Considerando as palavras “sede” e “fome” é certo que a promessa do Senhor é de “saciedade”. Jesus está falando de um suprimento espiritual: “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado”... “Jamais terão fome, nunca mais terão sede...”. (Rm 8.3; Ap 7.16a). Certamente, esta é a bem-aventurança do perdão: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto” (Sl 32.1).
O termo “justiça” (dikaiosune, gr.) está ligado a ideia da “condição de ser aceito por Deus” ou “dar a cada um o que é devido”, esse último num sentido judicial. Portanto, a partir do contexto das bem-aventuranças, são extremamente felizes os cristãos “considerados justos pelo sacrifício de Cristo” e que comunicam tal justiça ao mundo sedento, pois é a misericórdia do Senhor a base dessa justiça. Em Cristo ou fora dEle, Deus dá a cada um o que lhe é devido. No sentido forense, judicial, os cristãos são justificados por Jesus. Ele é a justiça de seu povo: “tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”... “Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa” (Mt 20.28; Jr 23.6). Lembre-se: Ele pagou a nossa dívida (Is 53.5-6).
Por outro lado, a bem-aventurança também ensina que os cristãos devem viver justamente. Num sentido ético, Jesus alertou que os justificados por Deus possuem uma conduta compatível com tal graça. O próprio contexto do "sermão do monte" demonstra essa verdade: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus... Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus... Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”... “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste... buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 5.10, 20, 48; Mt 6.1). Como bem declarou o teólogo reformado Simon Kistemaker, “embora seja impossível que as obras justifiquem alguém, é igualmente impossível que uma pessoa justificada possa viver sem praticar boas obras”.
Finalmente, a pergunta inevitável é: qual é a promessa dessa bem-aventurança? Considerando as palavras “sede” e “fome” é certo que a promessa do Senhor é de “saciedade”. Jesus está falando de um suprimento espiritual: “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado”... “Jamais terão fome, nunca mais terão sede...”. (Rm 8.3; Ap 7.16a). Certamente, esta é a bem-aventurança do perdão: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto” (Sl 32.1).
Rev. Ângelo Vieira da Silva
BEM-AVENTURADOS OS MANSOS
“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5.5).
Os grandes equívocos na interpretação do sentido de “mansos” resumem-se em fraqueza e brandura. Ora, a mansidão não é sinônima de fraqueza! Jesus não está falando daquelas pessoas visivelmente enfraquecidas, fragilizadas, passivas, com falta de perspicácia ou de caráter. A força física, seja intensa ou apática, não é fator determinante para a bênção divina. Lembre-se que um dos grandes juízes de Israel foi o fortíssimo Sansão (Jz 13.24). Igualmente, a mansidão não se refere àquela total brandura. Sim, há pessoas que interpretam a bem-aventurança aplicando-a àquele grupo de pessoas de gênio brando, pacífico, sereno, tranquilo, quieto. Todavia, o homem mais manso de sua geração pode se encolerizar (Nm 12.3; Nm 11.10-15; Nm 20.11-12). Nem o próprio Deus bondoso deixa de se indignar e se irar com o pecado dos homens (Rm 1.18). Assim, é interessante notar que o filósofo grego Aristóteles (aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, século IV) definiu a mansidão como o justo meio entre a ira excessiva e a falta absoluta de ira, ou passividade.
Há um sentido espiritual em “mansos” (praus, gr.), palavra ligada às ideias de “sujeição e subordinação espirituais”, “sem algum tipo de disputa ou resistência”, ao “suportar sem amargura”. Também está bem conectada com a primeira bem-aventurança, os pobres de espírito (Is 11.4; Is 29.19). Aparentemente, a única diferença está nas relações, isto é, a primeira se refere a Deus e a segunda aos homens. Portanto, a terceira bem-aventurança ensina que são extremamente felizes os cristãos que se “submetem ao Senhor diante de qualquer situação”, mantendo no coração “à disposição de sofrer dano ao invés de causá-lo” (Simon Kistemaker), deixando tudo nas mãos do Deus vivo. Nesse sentido, os cristãos aprendem o modelo de Cristo. Jesus é o seu padrão de mansidão (Mt 11.29), pois Ele se submeteu a vontade do Pai (Jo 4.34; Fp 2.8). Desse modo, o povo de Deus entende o valor da mansidão. Além do modelo divino, o próprio Espírito Santo produz o fruto de mansidão no cristão. Esse é o seu valor prático (Ef 4.2; Cl 3.12; 1 Pe 3.4, 14; Gl 5.23; 1 Tm 6.11; 2 Tm 2.25; Tg 1.21; Tg 3.13). Em tudo isso se vê que o cristão manso é aquele que não se ressente, que não guarda rancor. A mansidão será o antônimo de “espírito vingativo”.
Qual é a promessa dessa bem-aventurança? Muito além da terra arável, o chão ou os continentes deste mundo, o texto diz que os mansos “herdarão a terra”, isto é, a nova e durável terra da justiça: “Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz... Aqueles a quem o SENHOR abençoa possuirão a terra; e serão exterminados aqueles a quem amaldiçoa. Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre. Espera no SENHOR, segue o seu caminho, e ele te exaltará para possuíres a terra; presenciarás isso quando os ímpios forem exterminados”... “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”... “Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável. Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa” (Sl 37.11, 22, 29, 34; 2 Pe 3.13; Hb 10.34-36).
Rev. Ângelo Vieira da Silva
BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM
“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”...
“... Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir” (Mt 5.4; Lc 6.21b).
Equivocam-se aqueles que sugerem que o choro da bem-aventurança refere-se apenas ao pranto pelo luto ou “todo e qualquer choro”. As pessoas choram por alegria e tristeza; pranteiam por diferentes situações da vida. Dos motivos mais triviais (como um time de futebol) aos mais complexos (perda de um ente querido), o ser humano se expressa pelas lágrimas. Considerar todo pranto dentro da bem-aventurança é vulgarizar a bem-aventurança. Jesus está falando de um choro específico, que produz arrependimento para a salvação: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” (2 Co 7.10). Ademais, apesar de a expressão grega ter sua relação com o luto, as bem-aventuranças são de teor espiritual e se seguem uma à outra. Ora, se reconheci minha pobreza espiritual na primeira bem-aventurança, choro por essa condição na segunda. Se há luto aqui, é um pesar espiritual. Daí a exortação do Senhor Jesus: “Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar” (Lc 6.25).
“Choram” (pentheo, gr.) refere-se ao “ser afetado profundamente”, “àquele que pranteia intensamente por alguém morto”. De fato, é o que ocorre na vida espiritual. Logo, a bem-aventurança ensina que são extremamente felizes os cristãos que, reconhecendo sua condição espiritual de morte, lamentam as consequências produzidas por seus atos pecaminosos diante do Deus vivo. A segunda bem-aventurança é uma consequência da primeira. Portanto, qualquer cristão deve prantear pela desobediência à Lei (Sl 119.136), pelas ações dos adversários (Sl 6.6-8), pelo pecado do povo (Ed 10.6). Todavia, amanhã os cristãos não mais chorarão. Tudo passará na eternidade com Deus, inclusive o pranto: “Tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará o SENHOR Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a terra o opróbrio do seu povo, porque o SENHOR falou”... “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão”... “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Is 25.8; Sl 126.5; Ap 21.4).
Finalmente, pergunto: qual é a promessa dessa bem-aventurança? Ora, o riso pelo consolo providente de Deus: “Tenho visto os seus caminhos e o sararei; também o guiarei e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que dele choram”... “Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados” (Is 57.18; Is 66.13). “Consolados” (parakletos, gr.) é o termo também utilizado para o Advogado Jesus e o Espírito Consolador, aqueles que se “posicionam ao nosso lado”. Haveremos de “sorrir” porque o Senhor nos consolará: “Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar” (Jo 16.20-22).
Rev. Ângelo Vieira da Silva
BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”... “Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (Mt 5.3; Lc 6.20).
“Não poderemos ser cheios enquanto não formos primeiramente esvaziados” (D. M. Lloyd-Jones). É justamente esse o ensino da primeira bem-aventurança. Naturalmente, muitos associam a bem-aventurança com uma condição exterior ou uma espiritualidade inferior. Equívocos! Ora, é certo que a condição exterior não leva alguém à felicidade real. Sabemos que os ricos eram invejados e os pobres eram humilhados no contexto de Tiago, por exemplo: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam? 6 Entretanto, vós outros menosprezastes o pobre. Não são os ricos que vos oprimem e não são eles que vos arrastam para tribunais?” (Tg 2.5-6). Contudo, além de uma percepção material, o livro de Apocalipse ensina como alguém pode ser pobre embora se julgue rico e como pode ser rico em meio à pobreza: “pois dizes [Laodicéia]: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”... “Conheço a tua tribulação [Esmirna], a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás” (Ap 3.17; Ap 2.9).
Igualmente, a bem-aventurança de Jesus não premia aqueles com uma espécie de espiritualidade inferior. “Pobre em espírito” está relacionado ao espírito da pessoa, à sua essência e estado espirituais, não aos seus atos de espiritualidade. Logo, não é esse o sentido da bem-aventurança. A vida espiritual do cristão deve ser rica: “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”... “entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co 8.9; 2 Co 6.10).
Igualmente, a bem-aventurança de Jesus não premia aqueles com uma espécie de espiritualidade inferior. “Pobre em espírito” está relacionado ao espírito da pessoa, à sua essência e estado espirituais, não aos seus atos de espiritualidade. Logo, não é esse o sentido da bem-aventurança. A vida espiritual do cristão deve ser rica: “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”... “entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co 8.9; 2 Co 6.10).
“Humildes/pobres” (ptochos, gr.) refere-se àquele que é “necessitado”. Assim, associando-se a expressão “de espírito”, interpreta-se que são extremamente felizes os cristãos que se convenceram de sua pobreza espiritual, tornando-se conscientes de sua miséria e necessidade do Deus vivo, tal como Davi: “Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. SENHOR, não te detenhas!” (Sl 70.5). Ora, Jesus quer cristãos sem orgulho (Lc 18.13; Pv 16.19), que admitem sua condição (Rm 7.14), temem a Deus (Is 66.2) e se arrependem de seus pecados (Jl 2.13; Mt 3.2): “Melhor é ser humilde de espírito com os humildes do que repartir o despojo com os soberbos”... “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado”... “Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o SENHOR, mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra”... “Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal”. Naturalmente, assim serão “ricos de espírito” com uma promessa inabalável. Sim, a bem-aventurança tem sua promessa. Qual é? Obviamente, a posse do reino dos céus: “porque deles/vosso é o reino dos céus”.
Rev. Ângelo Vieira da Silva
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