A GRAVIDADE DA RENÚNCIA PAPAL


Foi surpreendente acordar hoje e ler dentre as notícias do dia a renúncia do Papa Bento XVI. De pronto, passei a imaginar as sucessivas teorias apocalípticas e conspiratórias que surgiriam a partir daí... Asas para a imaginação humana! Porém, pretendi e preferi uma abordagem mais realista da renúncia papal. Leia um pouco mais...

Ainda que não seja católico romano, reconheço a importância política e religiosa do "bispado de Roma, do sucessor de São Pedro". A matéria do G1 chamou-me a atenção pela seguinte declaração de Joseph Ratzinger: "O pontífice afirmou que está 'totalmente consciente' da gravidade de seu gesto". Por alguns instantes pensei e resolvi realizar uma breve pesquisa sobre renúncia papal no Código de Direito Canônico para entender a "gravidade deste gesto".

Pois bem, a partir da segunda parte da Constituição Hierárquica da Igreja Romana, seção I (da Suprema Autoridade da Igreja Romana), capítulo I (do Romano Pontífice), qualquer interessado pode compreender melhor a decisão de Bento XVI, o Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, o Vigário de Cristo e Pastor da Igreja universal (Cânone 331). O parágrafo segundo do Cânone 332 legisla: "Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie a seu múnus, para a validade se requer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada, mas não que seja aceita por alguém" (destaque meu). Apesar de notar os fundamentos da renúncia papal neste Cânone, ainda assim não notei a "gravidade deste gesto".

Pesquisei um pouco mais e a leitura parcial do livro "A Renúncia do Papa na visão de um Pensador Medieval" (2000) lançou mais luz sobre os fatos. Alegadas renúncias à parte (suposições históricas), esta obra declara que à única renúncia pontifícia oficial de que se tem conhecimento foi efetuada por Celestino V, o qual, invocando a plenitudo potestattis (isto é, o poder e a jurisdição papal), primeiramente decretou que tal ato era perfeitamente legal, e, depois, em 13 de dezembro de 1294, tomou aquela decisão declarando: “Eu, Celestino V papa, movido por razões legítimas (...) espontânea e livremente deixo o papado e renuncio o cargo, a dignidade, o ônus e a honra (...).

Compreendi. Confirmando-se este componente histórico, de fato a decisão de Bento XVI é grave, pois o torna o segundo Pontífice que durante toda a existência da Igreja renunciou ao seu cargo livremente. Distinções? Talvez o que difira Celestino V de Banto XVI é que o primeiro renunciou apenas cinco meses após seu pontificado e o segundo oito ano após seu pontificado. Todavia, ambos seriam os únicos papas que durante os "dois mil anos" de Cristianismo renunciaram ao Pontificado. Este, certamente, é o grave efeito da renúncia papal.

Por outro lado, o atual papa atribuiu sua renúncia à idade avançada, como registrou: "Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, eu tive a certeza de que meus pontos fortes, devido à idade avançada, não são mais adequados para um adequado exercício do ministério Petrino"... E mais: "No entanto, no mundo de hoje, sujeito a tantas mudanças rápidas e abalado por questões de relevância profunda para a vida de fé, para poder governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, a força da mente e do corpo são a força, necessária que nos últimos meses, tem-se deteriorado em mim na medida em que eu tive que reconhecer a incapacidade de cumprir adequadamente o ministério que me foi confiado". São as palavras que respondem ao Cânone 332. É a renúncia devidamente manifestada.

Em suma, sendo católicos ou não, todos precisamos reconhecer que os Papas são homens comuns, sujeitos aos mesmos sentimentos que o restante de nós. Como Joseph Ratzinger declarou: "peço perdão por todos os meus defeitos". Alegou mais em seu Twitter pessoal: "Devemos confiar no poder da misericórdia de Deus. Somos todos pecadores, mas Sua graça nos transforma e renova" (veja aqui). Concordo! Somos todos pecadores e devemos confiar unicamente na misericórdia e graça de Deus em Cristo Jesus para nos perdoar os pecados. Belas palavras, Pontífice! Bíblicas! Somente Jesus pode perdoar os meus pecados, as suas transgressões, caro leitor, e os pecados do Papa. Amém.

Rev. Ângelo Vieira da Silva
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19 comments

Nda de Grave, Jesus esta no controle, mas tudo de grave para aqueles em que negam o controle a Jesus!

A gravidade do ato papal é política e eclesiástica... Não se avaliou neste artigo uma perspectiva espiritual da renúncia.

PARTE A

"A gravidade do ato papal é política e eclesiástica... Não se avaliou neste artigo uma perspectiva espiritual da renúncia."


Declara o nobre Pastor Ângelo que, "Ainda que não seja católico romano, reconheço a importância política e religiosa do 'bispado de Roma, do sucessor de São Pedro'.

Aqui o primeiro erro do clérigo Presbiteriano, que procurarei demonstrar.

"A matéria do G1 chamou-me a atenção pela seguinte declaração de Joseph Ratzinger: O pontífice afirmou que está 'totalmente consciente' da gravidade de seu gesto".

Atento, "Por alguns instantes pensei e resolvi realizar uma breve pesquisa sobre renúncia papal no Código de Direito Canônico para entender a 'gravidade deste gesto'."

O link para o artigo do Reverendo Ângelo está aqui http://g1.globo.com/mundo/renuncia-sucessao-papa-bento-xvi/noticia/2013/02/sob-aplausos-bento-xvi-aparece-em-publico-apos-anuncio-da-renuncia.html.

Teria o Papa dito as palavras, "O pontífice afirmou que está 'totalmente consciente' da gravidade de seu gesto"?

Ou tais palavras ‘gravidade de seu gesto’ foram uma liberdade do G1?

Fui ler a carta-renúncia do papa http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/a-carta-de-renuncia-do-papa-bento-xvi/, e, essa sim, oficial, e evidentemente, não achei a expressão que o G1 declarara e fora citado pelo autor do artigo aqui, reportando-se à informação no G1.

Logo no início da carta-renúncia Sua Santidade declara que é “... decisão de grande importância para a vida da Igreja...”; que “... pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino.”

Achei mais na leitura, “Por isso, sendo muito consciente da seriedade deste ato,...”. Em seguida segue-se declaração de renúncia (o Papa não abdica).

O jornal CORRIERE DELLA SERA fez publicar uma declaração que muito provavelmente foi a qual o G1 usou http://roma.corriere.it/roma/notizie/cronaca/13_febbraio_13/papa-ceneri-messa-roma-2113975225826.shtml :

"Prima uscita pubblica di Benedetto XVI dopo l'annuncio choc delle sue dimissioni. Nella mattinata il Pontefice ha presieduto l'udienza generale del mercoledì, la penultima prima di lasciare il soglio pontificio. La scelta delle dimissioni è arrivata, ha spiegato il Papa, "dopo aver pregato a lungo", "CONSAPEVOLE DELLA GRAVITÀ DI TALE ATTO [destaques meus] ma altrettanto consapevole di non essere più in grado di svolgere il ministero petrino con quella forza che esso richiede». E alla fine un ideale passaggio di consegne: "Continuate a pregare per me, per la chiesa per il futuro Papa, il signore ci guiderà".

Essa primeira declaração pública foi feita pelo Sumo Pontífice perante uma plateia de prelados e visitantes.

Foi a primeira declaração pública de Bento XVI, [Supremo Pastor da ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana] após o anúncio de sua renúncia [aos Cardeais]. foi um choque [total]. Pela parte da manhã da quarta-feira, o Pontífice presidiu a audiência geral [na presença os Cardeais], [sendo este o ato] penúltimo antes de deixar o pontificado [ou papado]. A escolha da renúncia veio, explicou o Papa, "depois de orar por um longo [tempo]", "CONSCIENTE DA GRAVIDADE DO ATO, mas sabendo também não ser mais capaz de exercer o ministério petrino com a força que [que lhe é] necessária." E ao final o pedido: "Continuem a rezar por mim para a igreja, para o futuro Papa, o senhor nos guiará". (tradução livre do Italiano com os acréscimos meu entre aspas).

PARTE B

Pode-se confirmar pelo vídeo postado pelo CORRIERE DELLA SERA que o papa declarou, sim, que estava consciente da ‘gravidade do ato [gesto]’. Muito embora, essa expressão não carta-renúncia.

Segundo o autor, o Presbiteriano Ângelo, o parágrafo segundo do Cânone 332, lê-se que, "Se acontecer que o Romano Pontífice RENUNCIE [destaque meu] a seu múnus, para a validade se requer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada [o que o Papa fez perante o Colégio Cardinalício], mas não que seja aceita por alguém" (destaques meus).

Este “mas não que seja...”, implica, necessariamente, que a decisão não dependerá
do Colégio Cardinalício. É unilateral, portanto.

Segue o autor do artigo, o Reverendo Ângelo, indicando que ele, ilustre Pastor da IPB, que mesmo que sua Santidade estivesse em obediência aos fundamentos canônicos, o Pastor aqui não notara a "gravidade deste gesto".

E qual seria a gravidade deste gesto?

Gilles Lapouge em artigo postado no Estadão informa que renúncias houve, e mais de uma ao longo da história do papado http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:poEs1sCEcFgJ:www.estadao.com.br/noticias/impresso,uma-decisao-humana-,996053,0.htm+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

Deixa claro que "De uma certa maneira este papa tão discreto, tão pouco teatral, tão ‘conservador’, ao contrário de João Paulo II, terá concluído seu ministério com um GESTO INSÓLITO E REVOLUCIONÁRIO: abandonando sua função de papa. É preciso de fato remontar séculos atrás para descobrir alguns precedentes." E lista no seu artigo os precedentes.

"Podemos citar Bento IX que ABANDONOU o papado em 1045, mas neste caso ele tinha um motivo singular, pois amava uma mulher e pretendia se casar com ela. Mais tarde, em 1415, o papa Gregório XII SE DEMITE, mas era uma época muito particular: a Igreja vivia o drama do ‘grande cisma do Ocidente’. Havia um papa em Avignon; um segundo papa em Roma, enquanto, nos bastidores, um terceiro papa, antipapa, manobrava. Gregório XII DEIXOU O CARGO para restaurar a unidade da Igreja, que não reconheceu o ato como RENÚNCIA. Modelo do século 13. Na realidade CONHECEMOS APENAS UM PRECEDENTE DA DECISÃO DO PAPA BENTO XVI. Devemos remontar ao ano 1294. Celestino V, octogenário, assume o papado por alguns meses apenas, pois prefere se consagrar à meditação mística e se retira para um mosteiro." (Destaques meus).

"A Renúncia do Papa na visão de um Pensador Medieval" http://www.lusosofia.net/textos/souza_antonio_jose_a_renuncia_do_papa_na_visao_de_um_pensador_medieval_pedro_de_joao_olivi1.pdf à qual o autor faz referência, trata de uma tese que o José Antônio levanta na página 29 de sua obra, a saber:

“[340] Devido à renúncia de Celestino, ocorrida há pouco tempo, alguns duvidaram SE O PAPA PODE RENUNCIAR AO PAPADO, DE MODO QUE, ESTANDO VIVO, OUTRO POSSA VIR A SUBSTITUÍ-LO. Por isso, quanto mais vigorosamente pudermos, iremos tratar disso com o propósito de bem esclarecer a questão. [e para indicar que seu trabalho era justamente para provar o contrário, declarou...]. EM PRIMEIRO LUGAR, DEFENDAMOS A TESE CONTRÁRIA. Faço-o, pois, apresentando 12 argumentos, a fim de que, por último, através de sua refutação, a verdade da conclusão [de que um Papa não poderia renunciar em vida] proposta brilhe mais claramente.” (destaques meus).

A tese do livro é outra, não aquela aventada pelo ilustre Pastor.

PARTE C


Gilles Lapouge em artigo postado no Estadão informa que renúncias houve, e mais de uma ao longo da história do papado http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:poEs1sCEcFgJ:www.estadao.com.br/noticias/impresso,uma-decisao-humana-,996053,0.htm+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
Deixa claro que “De uma certa maneira este papa tão discreto, tão pouco teatral, tão ‘conservador’, ao contrário de João Paulo II, terá concluído seu ministério com um gesto insólito e revolucionário: abandonando sua função de papa. É preciso de fato remontar séculos atrás para descobrir alguns precedentes.” E lista no seu artigo os precedentes.

“Podemos citar Bento IX que ABANDONOU o papado em 1045, mas neste caso ele tinha um motivo singular, pois amava uma mulher e pretendia se casar com ela. Mais tarde, em 1415, o papa Gregório XII SE DEMITE, mas era uma época muito particular: a Igreja vivia o drama do ‘grande cisma do Ocidente’. Havia um papa em Avignon; um segundo papa em Roma, enquanto, nos bastidores, um terceiro papa, um antipapa, manobrava. Gregório XII deixou o cargo para restaurar a unidade da Igreja, que não reconheceu o ato como renúncia. Modelo do século 13. Na realidade CONHECEMOS APENAS UM PRECEDENTE DA DECISÃO DO PAPA BENTO XVI. Devemos remontar ao ano 1294. Celestino V, octogenário, assume o papado por alguns meses apenas, pois prefere se consagrar à meditação mística e se retira para um mosteiro.

"A Renúncia do Papa na visão de um Pensador Medieval" http://www.lusosofia.net/textos/souza_antonio_jose_a_renuncia_do_papa_na_visao_de_um_pensador_medieval_pedro_de_joao_olivi1.pdf à qual o autor faz referência, trata de uma tese que o autor levanta na página 29 de sua obra, a saber:

“[340] Devido à renúncia de Celestino, ocorrida há pouco tempo, alguns duvidaram SE O PAPA PODE RENUNCIAR AO PAPADO, DE MODO QUE, ESTANDO VIVO, OUTRO POSSA VIR A SUBSTITUÍ-LO. Por isso, quanto mais vigorosamente pudermos, iremos tratar disso com o propósito de bem esclarecer a questão. [e para indicar que seu trabalho era justamente para provar o contrário]. EM PRIMEIRO LUGAR, DEFENDAMOS A TESE CONTRÁRIA. Faço-o, pois, apresentando 12 argumentos, a fim de que, por último, através de sua refutação, a verdade da conclusão [de que um Papa não poderia renunciar em vida] proposta brilhe mais claramente.” (destaques meus).

A ‘gravidade do gesto’ de que Bento XVI falou, e amparada, essa sim, na sua carta-renúncia, e onde acima destaquei três pontos principais indicativos dessa gravidade, não é apenas a quantidade numérica que daria o tom de gravidade por ter ocorrido, segundo o autor aqui, onde Celestino e Bento XVI teriam sido “... os únicos papas que durante os ‘dois mil anos’ de Cristianismo renunciaram ao Pontificado.”

Este, certamente, não é o grave efeito da renúncia papal, indicado na carta-renúncia.

http://www.drvc.org/latest-news/pope-renounces-papal-throne.html


Bem, se é ‘tradução’, em qual língua o papa leu sua carta-renúncia? Segundo a diocese de Rockville em Nova York http://www.drvc.org/latest-news/pope-renounces-papal-throne.html , o papa falou em Latim. E claro, não poderia ser de outra forma, vez que era uma comunicação oficial.

Muito embora o Pastor Ângelo justifica que o ato papal da renúncia não foi avaliado pelo prisma espiritual, confesso que desapontei-me.

Afinal, terá visto no ato de renúncia como ponto fulcral o aspecto político e eclesiástico?

Encontros presbiterais, sinodais e até de assembleias gerais das Igrejas Presbiterianas com o seu Supremo Concílio onde, ao lado da história do Presbiterianismo brasileiro renúncias ocorreram, seriam essas de natureza política e eclesiástica?

Ou alguns de seus grandes renunciaram por amor à Igreja.

Creio que o Santo Padre, Pastor supremo da ICAR renunciou para o bem da amada Igreja.



Caro Eduardo, li seus nutridos comentários e os publico como justa opinião. Só esclareço que, aparentemente, você me entendeu mal (ou não me expressei bem) ao utilizar-me da expressão "A gravidade do ato papal é política e eclesiástica... Não se avaliou neste artigo uma perspectiva espiritual da renúncia". Não pretendi dizer que a renúncia papal não teve fulcro espiritual (como das assembleias gerais de minha amada IPB), mas, tão somente, que a sucinta reflexão postergou análises religiosas do tema, face as possíveis teorias apocalípticas que surgiriam a seguir (e têm surgido, de fato).

Rev. Ângelo, pelo menos uma coisa o ilustre clérigo Presbiteriano faz com aplausos meu: publica, mesmo que os comentários sejam contrários à opinião do ilustro Ministro do Evangelho.

Aliás, a prática de não publicar comentários entre blogueiros evangélicos, sobretudo aqueles que julgam que os comentários recebidos são contrários ao que publicam, é algo estarrecedor: vêm, tais blogueiros, a público para fazer propaganda de suas opiniões? E quando se comenta, contrário, mas respeitosamente, a primeira coisa que fazem é impedir a publicação de comentários?

Evidentemente que comentários que afrontam e desonram ou denigram o autor ou terceiros devem ser imediatamente lançados ao lixo. Bráulia, blogueira na ULTIMATO, é, a meu juízo, a única que recebe e publica comentários, mesmo que estes não sejam justos nem ao que ela publica. Os demais, Amorese, Carvalho, Carlos 'Catito' (curioso que a plataforma Lattes lista-o com 'Ph.D. em Letras!, Carriker admitem em seus comentários, em sua quase totalidade, apenas os tradicionais 'baba-ovos'. É uma pena porquanto não enriquece ao debate.

Mas a tônica destes e outros é bem outra: estão a publicar porque desejam fazer conhecidos seus pontos de vista e quiçá, propaganda, e não admitem serem contrariados.

Publiquei muita coisa em ULTIMATO. Desisti de continuar e por uma razão bem simples. A revista tem um departamento de moderação que ao longo dos últimos anos deixou de ser um poder moderador para passear na área trágica do censor.

São pessoas que têm o meu maior respeito, sou assinante da revista há anos, conheço pessoalmente seu fundador, já o acolhi em minha casa, etc.

Mas infelizmente seus 'herdeiros' (refiro-me à contribuição que cada um faz e dá à revista) não herdarem o espírito de seu fundador. É uma pena!

Esse longo arrazoado não é para falar mal de ULTIMATO ou dos blogueiros citados ou quem quer que seja: critico o objeto (os artigos, e não as pessoas, o sujeito do artigo.

E se os nomeio é para indicar a fonte das publicações) e indicar que a seção COMENTÁRIO em qualquer publicação que se dá ao direito de a si mesmo vir a público, deve sim, ser ampla, geral e irrestrita, a menos que fira aquilo que a CF/88 estabeleceu como direito pessoal de cada um de ser preservado.

A crítica, portanto, é ao acessório, isto é, o medo de serem contestados, o que, evidentemente não é o seu caso.

Mostra-se, permita-me, você, dotado de enorme segurança. Nisso desejo publicamente congratula-lo.

Quanto ao "Só esclareço que, aparentemente, você me entendeu mal (ou não me expressei bem)...", esta expressão e similares já apareceu com certeza pela menos duas vezes no meu caso, e não sei se em outros comentários, o que talvez fosse interessante que em suas próximas publicações, um "isto é" como uma espécie de 'aviso aos navegantes' fosse de bom tom.


http://www.news.va/pt/news/111260

Mais uma pequena contribuição, Pastor Ângelo. Segue o texto do Santo Padre em Latim e outras línguas.

"A conturbada história dos papas" - título que aparece hoje em ULTIMATO e em seguida:

“Do ponto de vista protestante, o papado não é uma instituição de origem divina, mas resultou de um longo e complexo processo histórico. (...)”, (Prof. Alderi).

Quatro infelicidades, a meu ver:

1. A impropriedade (outros dirão, oportunismo, e ainda outros, 'marketing' de venda) de apresentar o livro justamente agora;

2. O título, A CONTURBADA... lança mais lenha na fogueira do que trás luz ao assunto, além, claro, de trazer tudo para uma distorção ímpar. É o popularesco. Coisa de jornal de quinta! O que excedeu em marketing/oportunismo, faltou em um bom artigo, um editorial mesmo, lançando luz sobre a renúncia (que ainda vai ocorrer!) do Papa;

3. O livro do Prof. Alderi é ruim. Explico-me. O Dr. Aldery, desde seus tempos de seminário foi tido e visto como uma pessoa competente, organizada, um tipo sempre na sua. Mas o Professor sempre careceu de visão, profundidade e sobretudo de originalidade. Foi e é um grande assimilador, um 'compendista' (compêndios), sintetizador. Mas ao contrário de um Justo Gonzalez, ele sempre foi incapaz de tirar um ponto realmente admirável de uma narrativa história, que Justo faz com maestria justamente porque trabalha com um negócio chato, história;

4. Finalmente, o estilo do livro do ilustre Professor já nasce morto em grande medida por conta da velocidade que a internet oferece em termos de comunicação. É, a meu juízo, um material histórico 'natimorto'. Em PDF boa parte do livro está disponível na net. Mas note um ponto importante:

"Este livro reúne uma série de artigos sobre temas históricos publicados na revista Ultimato [que] sofreram algumas modificações e foram agrupados em torno de seis grandes tópicos: igreja, teologia,
espiritualidade, missões, questões éticas e cristianismo e sociedade." Este é o Professor Alderi, campeão de generalidades!

Agora, Rev. Ângelo, tome a frase "...o papado não é uma instituição de origem divina, mas resultou de um longo e complexo processo histórico" e troque 'papado' por 'igreja' (sim, estou tomando aqui nos dois sentidos: igreja com aquela dupla característica: divina e humana!) e pergunte ao Professor, estimado historiador da IPB se ele concordaria?

"Eduardo, vc admite que o que vale para um valeria para outro?" Respondo: "quero saber se o Professor Alderi é capaz de sustentar que, como historiador (teólogo ele nunca foi) a validade de um (papado) com a exclusão do segundo (igreja) como resultado (o primeiro) de um 'longo processo histórico' e o outro (igreja), não!"

Caro Eduardo, agradeço a congratulação.

Desde que haja os princípios elementares da boa educação (como você bem ressaltou com outros termos), publico qualquer comentário, mesmo que seja contrário a opinião pessoal. É o mínimo que posso fazer quando me proponho a refletir sobre um tema e lançar um texto "ao mundo".

Creio que seus comentários acabaram por enriquecer a discussão sobre o assunto e o leitor, cônscio destas novas informações, poderá decidir-se por uma opinião.

Agradeço pelas dicas, pelas contribuições e pela educação.

Quanto ao texto sobre a "conturbada" história dos papas fiquei com algumas dúvidas a partir de seu comentário e do artigo no portal da ULTIMATO.

1. O título A CONTURBADA HISTÓRIA DOS PAPAS é do autor (Dr. Alderi) ou da Equipe Editorial? O primeiro faz parte do segundo?

2. Por que tematizar a chamada do livro "A CAMINHADA CRISTÃ NA HISTÓRIA: a bíblia, a igreja e a sociedade ontem e hoje" como CONTURBADA? Aqui me parece um pouco de exagero, devo reconhecer. Não li o livro ainda, porém, aparentemente a obra não é sobre os papas e mesmo se assim fosse seria inconveniente afirmar que toda a história papal foi conturbada.

Quanto ao texto sobre a "conturbada" história dos papas fiquei com algumas dúvidas a partir de seu comentário e do artigo no portal da ULTIMATO. (Pastor Ângelo).

1. O título A CONTURBADA HISTÓRIA DOS PAPAS é do autor (Dr. Alderi) ou da Equipe Editorial? O primeiro faz parte do segundo?

“A CONTURBADA...” http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-conturbada-historia-dos-papas não é editorial, mas um ‘Twitter’ da Equipe Editorial Web.

Editorial tem assinatura do editor. Por exemplo, quando a GLOBO publica um editorial (poucas vezes em rede de TV) ela tem a assinatura (o ‘com o acordo’) dos proprietários.

O mesmo vale para um declaração (editorial) recente na Rede Bandeirantes, lida pelo Bouchat que declarou, ao final do editorial, a posição oficial da Bandeirantes.

“A CONTURBADA” foi uma bela jogada de marketing:

A). “A propósito da renúncia do papa Bento 16, elaboramos [quer dizer, 'pinçaram'] uma breve cronologia da história dos papados. A cronologia é baseada no capítulo 3 de A CAMINHADA CRISTÃ NA HISTÓRIA, do historiador e colunista [Alderi não faz parte da equipe editorial. É, entre outros, como foi o Bispo Dom Robinson, colunista. E se o faz não é público nenhum documento nesse sentido] da revista Ultimato Alderi Souza de Matos”.

O livro do Professor Alderi é a somatória de publicações feitas ao longo de 2000 a 2005 na revista ULTIMATO que publicou o livro dele. É, a meu ver, portanto, propaganda, marketing.

Está errado isso? Não. Mas oportunismo é. Está errado aproveitar a oportunidade? Também não.

Mas está errado a abordagem do assunto com um viés rigorosamente tortuoso: o que é que a relação dos períodos do capítulo 3 tem a ver com a declaração de renúncia de Bento XVI? Nada!

B). O título, “A CONTURBADA...” é da revista e não do livro do Dr. Alderi. O Capítulo 3 do livro do ilustre historiador é “O Papado: Sua Origem, Evolução Histórica e Significado Atual”.

C). Quem ‘conturbou’ a coisa foi a revista! E claro, julgou oportuna anunciar uma de suas publicações para vender.

Imagina o seguinte cenário. O Pastor Élben renuncia à revista ULTIMATO por razões de saúde e se recolhe para nunca mais aparecer por lá.

Admitamos que grupos contrários à rica tradição da revista atribuem a sua renúncia ou afastamento a razões ‘conturbadoras’ na evolução histórica do Protestantismo e uma possível desavença teológica com o Presbiterianismo nacional... Pronto, está armado o barraco!

D). Alderi Souza de Matos é professor de História da Igreja no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ), na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e historiador da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), como o nobre Pastor Ângelo o sabe muito bem. Além, claro, de ele mesmo declarar que “É também colaborador regular do jornal Brasil Presbiteriano, da revista Ultimato e da revista Servos Ordenados, bem como um dos apresentadores do programa 'Flashes da História', da nova TV Mackenzie Digital (canal 60), lançada em novembro de 2010. Esse programa aborda o início do presbiterianismo em São Paulo e a história do Mackenzie.”

Novamente, ULTIMATO fez marketing com o livro, seu autor e o momento. E, com certeza deve vender!

Nada mais justo, apenas que usou de uma abordagem de ‘quinta categoria’, e foi em cima do livro do notável historiador da IPB justamente na parte menos vistosa do livro.

2. Por que tematizar a chamada do livro "A CAMINHADA CRISTÃ NA HISTÓRIA: a bíblia, a igreja e a sociedade ontem e hoje" como CONTURBADA? Aqui me parece um pouco de exagero, devo reconhecer. Não li o livro ainda, porém, aparentemente a obra não é sobre os papas e mesmo se assim fosse seria inconveniente afirmar que toda a história papal foi conturbada.

Resposta: a palavra está com a ULTIMATO.

SOBRE OS COMENTÁRIOS POSTADOS AO ARTIGO "CONTURBADO"...

HUMANA VITAE

A partir dos itens, “Vias ilícitas para a regulação dos nascimentos; Liceidade dos meios terapêuticos; Liceidade do recurso aos períodos infecundos; Graves conseqüências dos métodos de regulação artificial da natalidade”, têm-se uma lista ali dos “não”.

A lista é razoável longa e os comentários que remetem a outras encíclicas, maiores ainda. Deixo ao seu critério a leitura.

ULTIMATO, citando o historiador da Igreja Presbiteriana, Prof. Alderi, afirma que a Encíclica “proibiu aos católicos o uso dos métodos de controle artificial da natalidade".

Note, pastor, que Alderi está ‘copiando-e-colando’ aquilo que é de conhecimento público, sem citar fonte alguma. A inferência é legítima? É. Mas ULTIMATO pinça um trecho e deixa-o a ver navios. Alderi assume o que os estudiosos informam? Pode ser. Mas não entra em detalhes sobre o documento papal. ULTIMATO cita, mas manda a conta para o professor-historiador pagar.

A expressão no livro, citada por ULTIMATO, é capciosa, e perceber-se-á ‘latitude’ e ‘amplitude’ que a expressão do professor Presbiteriano é tomada sem qualquer citação oficial que traga ao texto a encíclica.

Posso assegurar-lhe que se a ICAR é contra a camisinha e a pílula, é bom ler com mais cuidado os “não” na encíclica para perceber que o historiador exagerou na dose. Exagerou e com ele a revista.

Há exceções para a interrupção da gravidez permitida pela Igreja nesta e em outras encíclicas? Leia a encíclica, ela e outras.

Mas citando o professor com uma ‘largueza’ dessas, trouxe mais confusão do que esclarecimento. E ULTIMATO ajuda mais ainda.

Note, Pastor Ângelo que a postagem de ULTIMATO veio em resposta de um certo Bauer de Oliveira, Rio Das Ostras – RJ, “Ops... Vocês esqueceram o Papa Paulo VI...”.

Bauer nada diz. A bem da verdade, o sucinto listar de períodos e papas no artigo da revista não omitiu apenas Paulo VI, omitiu quase todos os papas.

O que faz ULTIMATO? Novamente pinça um texto em o livro do Dr. Alderi e ‘conturba’ mais o meio de campo com essa infelicidade e manda ver: “O papa Paulo VI (1963-1978) foi o sucessor [...] no interesse de 'construir uma ponte entre a Igreja e o mundo moderno'... também publicou a controvertida encíclica 'Humanae vitae'... que proibiu aos católicos o uso dos métodos de controle artificial da natalidade".

Percebe-se claramente que o ilustre historiador da IPB está a servir, no texto e agora aqui, como uma espécie de 'boi de piranha', ou talvez, bode expiatório.

Há alguma relação entre o artigo, o anúncio da renúncia do Papa com Humana Vitae? Nenhuma. Não satisfeito, a revista, coloca joga mais gasolina. A quem interessa?

Pergunto eu à revista: adultos conscientes, dizem não ao controle de natalidade? Dizem sim!

Privar-se-á os pais de países considerados pobres ou do ‘terceiro mundo’, privado do acesso à contracepção e ao aborto, o acesso à contracepção e ao aborto (até a CF/88 permite em duas condições)? Quem defende isso, apoia uma atitude criminal!

A proibição de preservativos (camisinha, entre elas) quando há um risco de contrair AIDS, é viável? Desprezível, estúpido uma atitude dessas. Seria desprezo à saúde pública!

Quer dizer, ULTIMATO segue na mesma ‘maionese’ da Igreja Presbiteriana do Brasil:

“Quanto à prática do aborto, a Igreja Presbiteriana do Brasil reconhece que muitos problemas são causados pela prática clandestina de abortos,... Todavia, entende que a legalização do aborto não solucionará o problema, ...” (Brasileiro, Roberto).

Omite mais do que esclarece! E nos casos estabelecidos de aborto segundo a CF/88?

"Somos a favor da vida, como um dom de Deus. Ele é seu doador e somente Ele pode dela dispor" (Guilhermino Cunha); "Somos a favor da interrupção da gravidez para salvar a vida de uma mãe de outros filhos menores, da qual eles dependem, e que ainda poderá gerar outras crianças", pondera.”

“Agradecemos suas observações. Para ficar mais claro, incluímos agora no texto o nome do capítulo 3 do livro A Caminhada Cristã na História: "O Papado: sua origem, evolução histórica e significado atual". (SE O PRECLARO PASTOR NÃO TIVESSE COBRADO, HEIN?...).

“Quanto à palavra ‘conturbada’, ela não se refere ao livro [EVIDENTE], mas sim à história dos papados [ERROU DE NOVO. O CERTO É QUE A PALAVRA REFERE-SE AO QUE A ‘EQUIPE EDITORIAL’ ACHA DO IMBLÓGLIO HISTÓRICO DO PAPADO. NADA A ESPANTAR, CLARO, VINDO DE UMA REVISTA CONFESSADAMENTE CONSERVADORA
. MAS NÃO ACHO QUE HONRA O ESPÍRITO DE SEU FUNDADOR E MULTIDÃO DE LEITORES CATÓLICOS QUE ULTIMATO TEM]. O livro [DE ALDERI], dentre outros assuntos, traz um capítulo sobre os papas. É conturbada porque, como podemos ver na cronologia, foram vários momentos bons e ruins, agitados e perturbados. O que, claro, seria óbvio em uma longa história que envolve religião e poder. [ENTENDO, POR SER POR TER A ‘RELIGIÃO’ E ‘PODER’, PRESUMIVELMENTE DO PAPADO, UMA LONGA HISTÓRIA, ELA É PERTURBADORA. NA MESMA PROPORÇÃO, AO CHEGAR AOS 100 ANOS, ULTIMATO TERÁ SIDO UM ÓRGÃO ‘CONTURBADO’. ISTO É, A LONGEVIDADE É O CRITÉRIO. ACHO, PASTOR ÂNGELO, QUE O REV. ELBEN NÃO EXERCE MAIS AQUELE CARÁTER PRÓPRIO E MODERADOR DE LONGA HISTÓRIA DA REVISTA].

Pastor Ângelo, escrevi em MAIÚSCULAS não para GRITAR, apenas para destacar. Obrigado.


PARTE A

“O evangelho como superação da religião”

Rogo por sua paciência para expor um artigo publicado em ULTIMATO (tanto na revista quanto no portal) por Ed R. Kivitz.

“O evangelho é a superação da religião. O cristianismo é uma religião. O evangelho é, portanto, a superação do cristianismo. O silogismo proposto carece de esclarecimentos. Não pode ser compreendido sem uma adequada noção dos conceitos de evangelho e religião.” (Kivitz).

Premissa MAIOR: Evangelho supera religião
Premissa MENOR: Cristianismo é uma religião
Conclusão: Logo, o Evangelho supera o Cristianismo.

O silogismo aristotélico tem três tripés: MEDIAÇÃO (pela ‘razão’, ‘os olhos’ nem sempre percebem), DEDUÇÃO (parte de premissas universais) e a conclusão deve ser NECESSÁRIA para estabelecer um nexo causal.

Quero ‘desconstruir’ o ‘silogismo’ de Kivitz, porquanto é a sua construção falsa que redundará em sua construção falseada ao longo do artigo publicado.

1. Em um silogismo, a primeira premissa (MAIOR) deve conter o termo maior e o médio.
2. A segunda premissa (MENOR) deve conter o termo médio e o termo menor.
3. A conclusão deve conter as duas (MAIOR e MENOR).
4. Imagina isso usando aros de metal: a premissa maior é um aro grande como em uma bicicleta; a segunda um aro menor um pouco, e a conclusão um aro suficientemente grande para conter o aro MAIOR e o aro MENOR sem ter que usar o aro medio.

Regras importantes:

1. O silogismo contem três termos: o MAIOR, o MENOR e o MÉDIO;
2. O termo MÉDIO deve fazer parte das premissas e nunca da conclusão e deve aparecer ao menos uma vez em toda a sua extensão;
3. Nenhum TERMO pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas;
4. A conclusão não pode conter o termo MÉDIO;

Exemplo clássico:

Todos os homens são mortais.
Todos os brasileiros são homens.
Logo, todos os brasileiros são mortais.

É clássica porque demonstra a ligação perfeita entre indivíduo (brasileiro = Joaquim), a espécie (homens = diferente de macaco) e o gênero (mortais = em oposição à imortalidade):

Todos os homens (espécie) são mortais.
Joaquim (indivíduo) é homem.
Logo, Joaquim é mortal (gênero).

Premissa MAIOR: Evangelho supera religião
Premissa MENOR: Cristianismo é uma religião
Conclusão: Logo, o Evangelho supera o Cristianismo.

PARTE B

Qual é o indivíduo, a espécie e o gênero na construção de Kivitz?

Pense em termos de ‘argolas’ ou ‘aros’. O maior aro aí tem que ser RELIGIÃO. Mas nota-se que ele não considera isso como tal.

Digo eu. Maior porque engloba tanto Evangelho quanto o Cristianismo. Não, para ele ‘relacionamento’ é maior.

Note que Kivitz está tentando mostrar com o seu silogismo que o Evangelho é maior do que o Cristianismo e maior do que a religião.

Se voce perguntasse a ele, “Qual Evangelho?” Dificilmente ele puxaria os três sinóticos e João; dificilmente ele assumirá um conjunto de textos que qualificam e fundamentam o Evangelho.

‘Evangelho’ no artigo é uma espécie de ‘x’. Uma figura criada como referencial, mas não subordinada necessariamente a nada.

Kivitz é o tipo de pastor com aquela dificuldade enorme de subscrever uma confissão de fé!

Agora veja essa construção:

Premissa MAIOR: O Cristianismo é uma religião (gênero = mortal)
Premissa MENOR: O Evangelho (indivíduo = Joaquim) supera o Cristianismo
Conclusão: Logo, a religião supera o Cristianismo (espécie = homens).

A conclusão deve conter as duas premissas, a MAIOR e a MENOR. A conclusão não pode conter o termo MÉDIO.

Premissa MAIOR: Evangelho supera religião
Premissa MENOR: Cristianismo é uma religião
Conclusão: Logo, o Evangelho supera o Cristianismo (termo MÉDIO).

Kivitz cometeu um erro de construção lógica. E veja como ele vai ser ‘consistente’ com o erro ao analisar Maduro.

Diz ele que o sociólogo Otto Maduro, em “Religião” e “Luta de Classes”, define religião como “conjunto de discursos e práticas, referente a seres anteriores ou superiores ao ambiente natural e social, em relação aos quais os fiéis desenvolvem uma relação de dependência e obrigação”.

O ‘aro’ que define ‘religião’, segundo Maduro, é o ‘aro sociológico’. Muito embora a expressão de ‘dependência’ e ‘obrigação’ seja para com ‘seres anteriores ou superiores’, essa construção é tipicamente sociologicamente posto que observável em todas nas sociedades.

Note o elemento definidor em Maduro, “... o conjunto de discursos e práticas...” como definidor do ser ou seres (divindades).

O ‘olhar’ em Maduro é sociológico, vez que não olha para o ‘ser ou seres’, mas para os ‘discursos e práticas’ (rituais).

PARTE C (FINAL)

Kivitz está correto em perceber que Maduro identifica tanto 'práticas' quanto 'discursos', que Kivitz expande para “bases da religião: discursos, ou dogmas – corpo doutrinário; rito, ou práticas litúrgicas; e tabu, ou códigos morais”.

O segundo aspecto, e aqui entra o cristão Kivitz, é o caráter do ‘ser’ (ele já exclui de imediato ‘seres’) na figura de Jesus Cristo e sai o conjunto de crenças racional e cartesianamente organizadas.

Kivitz identifica duas vertentes (fundamentos e lógica).

Clarifica a primeira eliminando ‘seres’, e faz mais, estabelece que fé vai além de um ‘conjunto racional’ de afirmativas dogmáticas de modo que o contato direto com a divindade é possível e necessário, contornando os ‘conjuntos’ racionais.

Digo eu. Admitindo que o conjunto de afirmativas – discursos, dogmas, corpo doutrinário, ritos, práticas litúrgicas, tabus, códigos morais – sejam menores do que a figura de Jesus Cristo, o evangelho, portanto, deveria receber outra classificação, para além religião?

Se alguém esperar que Kivitz introduza o aspecto ‘revelacional’ da fé cristã ficará desapontando.

Ele entra, porém, com evangelho como ‘relacionamento com uma pessoa [Jesus Cristo]’.

E para deixar claro, distingue a pessoa de Cristo de o ‘conjunto de crenças’.

Maduro recebe aqui uma crítica do pastor batista, mas o pastor introduz 'experimentalismo religioso' como definidor do caráter do evangelho.

Vou dar um exemplo.

Admitamos que me encontre com um Muçulmano (e o fiz em 2005 em Bangladesh). Nesse encontro conversamos sobre as duas fé, Cristianismo e Islamismo.

Suponhamos que eu trouxesse à baila a ideia de ‘relacionamento com uma pessoa’ como o fundamento da fé Cristã. Ibrahim, do outro lado faria a mesma coisa. Eu com Jesus Cristo, ele com Alá e Maomé, seu profeta.

A asseveração de ‘único’ (Jesus Cristo) não se sustentará, mesmo que Kivitz cite a bíblia inteirinha.

Pior ficará se introduzir a ideia de ‘amor’ como qualificativo desse relacionamento, sobretudo porque se alguém que ouvir a conversa entre eu e Ibrahim poderia legitimamente e moralmente perguntar que ‘amor’ é esse que leva uma figura comum às duas fé – Abraão – sacrificar a seu próprio filho e o ‘deus’ de ambos sacrificar a seu próprio filho torturando-o em uma cruz.

“O evangelho é a superação da religião. Não é adesão a dogmas, mas relação mística com o Deus revelado em Jesus de Nazaré; não é celebrado em ritos, mas na dinâmica do Espírito que faz da vida toda uma festa para a glória de Deus; não se restringe à observação de regras comportamentais, mas se estabelece a partir de uma profunda transformação do ser humano, que é arrancado de si mesmo na direção de seu próximo em amor.” Lindo! Ibrahim trocou tudo por Alá!

Tudo começou quando Kivitz construiu um silogismo falso.




Essa madrugada postei um comentário que pode ou não ser publicado na revista ULTIMATO online. O comentário é minha resposta à sua indagação feita à publicação ("A CONTURBADA...") e a resposta (na minha opinião, ridícula) da equipe editorial da publicação.

Ei-la:

http://www.visionvox.com.br/biblioteca/u/UMBERTO_ECO_Em_que_creem_os_que_nao_creem.pdf

Este comentário não foi feito lá por razões de espaço: este pequeno livro, permita-ma a sugestão como leitura, são trocas de cartas entre o falecido Cardel Carlo Maria Montini e Umberto Ecco. O primeiro, cardeal, o segundo um reconhecido ateu. É de uma preciosidade (como referência enorme!).

A certa altura o Cardeal responde a uma pergunta sobre severas críticas à Igreja por Ecco (no caso, a Católica, mas em geral à igreja como instituição religiosa):

“A Igreja não satisfaz expectativas, celebra mistérios” – Cardeal Carlo Maria Montini.

Já nas bancas, a revista VEJA desta semana. o jornalista (Católico) Reinaldo Azevedo comenta um trecho do artigo de Mario Sabino que saiu publicado na revista VEJA, já em circulação. Diz Sabino:

“Os 'golpes contra a unidade da Igreja' e as 'divisões no corpo eclesial' não remetem às picuinhas de bastidores do Vaticano. É um erro ler a vida intelectual da Igreja como quem analisa as divisões internas do Kremlin, do Palácio do Planalto ou da CBF. Não se está discutindo se, depois da disciplina bronca de Dunga, é chegada a hora da bonomia molenga de Mano Menez... O catolicismo é um pouco mais complexo. Ao citar São Paulo e lembrar que o 'verdadeiro discípulo não serve a si mesmo nem ao público, mas a seu Senhor', Bento XVI está afirmando o óbvio, frequentemente esquecido até pela hierarquia religiosa, especialmente pelos partidários de certa 'Escatologia da Libertação': para os católicos, a Igreja não é autora de uma verdade humana, submetida a uma permanente revisão, mas a depositária de uma verdade revelada por Deus, que é eterna.”

Com isso reforço a minha crítica ao artigo do Pastor Kevitz (que escrevi o nome errado de ponta a ponta em meu arrazoado): quando Kevitz interpõe 'relacionamento' no lugar daquilo que Sabino refere como 'depositário' da fé, isto é, 'verdades eternas', Kevitz, como tantos outros (especialmente o psicólogo Carlos 'Catito'), está apenas psicologizando a fé cristã. Rende gente e dividendos, mas não é, a rigor, nem fé, nem tem o caráter revelacional da igreja, tornando-a uma mera extensão --- Kevitz e Carlos 'Catito' --- de um consultório, agora com a seda da psicologia no púlpito.

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