“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”...
“... Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir” (Mt 5.4; Lc 6.21b).
Equivocam-se aqueles que sugerem que o choro da bem-aventurança refere-se apenas ao pranto pelo luto ou “todo e qualquer choro”. As pessoas choram por alegria e tristeza; pranteiam por diferentes situações da vida. Dos motivos mais triviais (como um time de futebol) aos mais complexos (perda de um ente querido), o ser humano se expressa pelas lágrimas. Considerar todo pranto dentro da bem-aventurança é vulgarizar a bem-aventurança. Jesus está falando de um choro específico, que produz arrependimento para a salvação: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” (2 Co 7.10). Ademais, apesar de a expressão grega ter sua relação com o luto, as bem-aventuranças são de teor espiritual e se seguem uma à outra. Ora, se reconheci minha pobreza espiritual na primeira bem-aventurança, choro por essa condição na segunda. Se há luto aqui, é um pesar espiritual. Daí a exortação do Senhor Jesus: “Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar” (Lc 6.25).
“Choram” (pentheo, gr.) refere-se ao “ser afetado profundamente”, “àquele que pranteia intensamente por alguém morto”. De fato, é o que ocorre na vida espiritual. Logo, a bem-aventurança ensina que são extremamente felizes os cristãos que, reconhecendo sua condição espiritual de morte, lamentam as consequências produzidas por seus atos pecaminosos diante do Deus vivo. A segunda bem-aventurança é uma consequência da primeira. Portanto, qualquer cristão deve prantear pela desobediência à Lei (Sl 119.136), pelas ações dos adversários (Sl 6.6-8), pelo pecado do povo (Ed 10.6). Todavia, amanhã os cristãos não mais chorarão. Tudo passará na eternidade com Deus, inclusive o pranto: “Tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará o SENHOR Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a terra o opróbrio do seu povo, porque o SENHOR falou”... “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão”... “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Is 25.8; Sl 126.5; Ap 21.4).
Finalmente, pergunto: qual é a promessa dessa bem-aventurança? Ora, o riso pelo consolo providente de Deus: “Tenho visto os seus caminhos e o sararei; também o guiarei e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que dele choram”... “Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados” (Is 57.18; Is 66.13). “Consolados” (parakletos, gr.) é o termo também utilizado para o Advogado Jesus e o Espírito Consolador, aqueles que se “posicionam ao nosso lado”. Haveremos de “sorrir” porque o Senhor nos consolará: “Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar” (Jo 16.20-22).
Rev. Ângelo Vieira da Silva
Comente essa postagem aqui:
EmoticonEmoticon