BEM-AVENTURADOS OS PERSEGUIDOS


“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. 11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. 12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.10-12; Lc 6.22-23)


Os versículos selecionados nos Evangelhos de Mateus e Lucas apresentam o cristão como alvo de assegurada perseguição. Naturalmente, uma leitura breve dessa passagem pode induzir a crença que qualquer tipo de perseguição esteja em seu foco; ou, se referindo apenas aos líderes perseguidos, os profetas. Não é salutar essa interpretação. O texto também não é direcionado aos perseguidos políticos, pela cor, pelo gênero, dentre outros. Não se fala aqui de qualquer tipo de sofrimento, mas de uma perseguição religiosa. A perseguição se dá por causa de Cristo: “sereis odiados de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mc 13.13). Esse é o foco da bem-aventurança.

Então, o que essa bem-aventurança ensina precisamente? Vejamos as palavras usadas por nosso Senhor: “perseguidos/perseguirem/perseguiram” (dioko, gr.) é uma atitude de “hostilidade”, aquele que é contrário, provocador; “injuriarem” (oneidizo, gr.), repetido duas vezes, refere-se a “maus-tratos”, o que, em nossa legislação, inclusive, é crime; “mentindo” (pseudomai, gr.) é o mesmo que “falar falsidades”; “o disserem todo mal” (poneros, gr.) amplia a perseguição, pois fala de “uma natureza má”; “odiarem” (miseo, gr.) e “detestar” são sinônimos. Eis uma experiência de ódio e abominação; “expulsarem da sua companhia” (aphorizo, gr.) é o mesmo que “impor limites por má reputação”. Daí o sentido de “rejeitarem” (ekballo, gr.), “expulsar ou expelir”. Enfim, todas essas palavras expressam uma resoluta verdade: a perseguição à Igreja fiel é dura. A Igreja será odiada por seu amor a Jesus: “Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?”... “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Mt 10.25; Tg 4.4).

Além disso, Jesus declarou que seus discípulos são perseguidos “por causa da justiça”, “por minha causa”, “por causa do Filho do Homem”. O motivo é a fé em Jesus Cristo. Como expressou o discípulo amado, “irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos odeia” (1 Jo 3.13), “se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. Quem me odeia odeia também a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai. Isto, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo” (Jo 15.18-25). Assim, essa bem-aventurança ensina que são extremamente felizes os cristãos que desenvolvem uma fé genuína em Jesus Cristo e que, por causa dele, são perseguidos por sustentarem os padrões divinos pela Palavra. Independente das situações, os perseguidos se mantêm firmes e fiéis ao seu Senhor (Sl 73.26).

Finalmente, pergunto: qual é a promessa dessa bem-aventurança? Duas expressões definem a promessa: “porque deles é o Reino dos céus” e “é grande o vosso galardão nos céus”. São frases sinônimas, pois a promessa é o grande galardão do Reino dos céus (Rm 8.18; 1 Pe 1.3-4). Portanto, encerro o texto da sétima bem-aventurança lembrando uma citação do apologista Tertuliano de Cartago, província romana na África (160-225 d.C.): “Não é o sofrimento, mas a causa do sofrimento que faz o mártir”.

Rev. Ângelo Vieira da Silva

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