“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5.8).
Essencialmente, a sexta bem-aventurança não expressa um coração limpo mediante uma limpeza exterior, como muitos podem achar. Ora, é possível que a religião ofereça a possibilidade de uma limpeza exterior do coração, tal como o farisaísmo do Novo Testamento: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança! Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade”... “Abominável é ao SENHOR todo arrogante de coração; é evidente que não ficará impune” (Mt 23.25-28; Pv 16.5). Jesus, porém, fala do coração, sede da vontade e caráter (pensar, sentir, querer). Ao contrário dessa perigosa interpretação, o Senhor fala de uma limpeza interior do enganoso coração: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). O exterior precisa ser uma revelação do interior.
O termo “limpo” (katharos, gr.) refere-se à “liberdade, aquilo que não possui qualquer mistura”. Na perspectiva judaica, o coração é a sede da “vontade e caráter”: “Bem sei, meu Deus, que tu provas os corações e que da sinceridade te agradas; eu também, na sinceridade de meu coração, dei voluntariamente todas estas coisas; acabo de ver com alegria que o teu povo, que se acha aqui, te faz ofertas voluntariamente. SENHOR, Deus de nossos pais Abraão, Isaque e Israel, conserva para sempre no coração do teu povo estas disposições e pensamentos, inclina-lhe o coração para contigo; e a Salomão, meu filho, dá coração íntegro para guardar os teus mandamentos, os teus testemunhos e os teus estatutos, fazendo tudo para edificar este palácio para o qual providenciei” (I Cr 29.17-19). Assim, no sentido espiritual das bem-aventuranças, os limpos de coração serão os “homens livres do pecado, que não se misturam com a iniquidade”: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração”... “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (Tg 4.8; Hb 3.12).
Finalmente, pergunto: qual é a promessa dessa bem-aventurança? “Porque verão a Deus’’, responde Jesus. Não verão “literalmente” a Deus (Ex 33.20), mas contemplarão a sua glória em Jesus: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”...“Quem subirá ao monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente” (1 Jo 3.2; Sl 24.3-4). Verão o Pai no Filho: “Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. 9 Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.8-9). De fato, com efeito, “Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo” (Sl 73.1).
Encerro o estudo da sexta bem-aventurança lembrando um pensamento do afamado cientista Benjamim Franklin, calvinista e um dos líderes da revolução americana: “Limpe seus dedos antes de apontar para minhas manchas”. Parafraseio aqui: que seu coração seja limpo antes de exigir a limpeza de outros corações.
Pense nisso.
Rev. Ângelo Vieira da Silva
Comente essa postagem aqui:
EmoticonEmoticon