“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5.5).
Os grandes equívocos na interpretação do sentido de “mansos” resumem-se em fraqueza e brandura. Ora, a mansidão não é sinônima de fraqueza! Jesus não está falando daquelas pessoas visivelmente enfraquecidas, fragilizadas, passivas, com falta de perspicácia ou de caráter. A força física, seja intensa ou apática, não é fator determinante para a bênção divina. Lembre-se que um dos grandes juízes de Israel foi o fortíssimo Sansão (Jz 13.24). Igualmente, a mansidão não se refere àquela total brandura. Sim, há pessoas que interpretam a bem-aventurança aplicando-a àquele grupo de pessoas de gênio brando, pacífico, sereno, tranquilo, quieto. Todavia, o homem mais manso de sua geração pode se encolerizar (Nm 12.3; Nm 11.10-15; Nm 20.11-12). Nem o próprio Deus bondoso deixa de se indignar e se irar com o pecado dos homens (Rm 1.18). Assim, é interessante notar que o filósofo grego Aristóteles (aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, século IV) definiu a mansidão como o justo meio entre a ira excessiva e a falta absoluta de ira, ou passividade.
Há um sentido espiritual em “mansos” (praus, gr.), palavra ligada às ideias de “sujeição e subordinação espirituais”, “sem algum tipo de disputa ou resistência”, ao “suportar sem amargura”. Também está bem conectada com a primeira bem-aventurança, os pobres de espírito (Is 11.4; Is 29.19). Aparentemente, a única diferença está nas relações, isto é, a primeira se refere a Deus e a segunda aos homens. Portanto, a terceira bem-aventurança ensina que são extremamente felizes os cristãos que se “submetem ao Senhor diante de qualquer situação”, mantendo no coração “à disposição de sofrer dano ao invés de causá-lo” (Simon Kistemaker), deixando tudo nas mãos do Deus vivo. Nesse sentido, os cristãos aprendem o modelo de Cristo. Jesus é o seu padrão de mansidão (Mt 11.29), pois Ele se submeteu a vontade do Pai (Jo 4.34; Fp 2.8). Desse modo, o povo de Deus entende o valor da mansidão. Além do modelo divino, o próprio Espírito Santo produz o fruto de mansidão no cristão. Esse é o seu valor prático (Ef 4.2; Cl 3.12; 1 Pe 3.4, 14; Gl 5.23; 1 Tm 6.11; 2 Tm 2.25; Tg 1.21; Tg 3.13). Em tudo isso se vê que o cristão manso é aquele que não se ressente, que não guarda rancor. A mansidão será o antônimo de “espírito vingativo”.
Qual é a promessa dessa bem-aventurança? Muito além da terra arável, o chão ou os continentes deste mundo, o texto diz que os mansos “herdarão a terra”, isto é, a nova e durável terra da justiça: “Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz... Aqueles a quem o SENHOR abençoa possuirão a terra; e serão exterminados aqueles a quem amaldiçoa. Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre. Espera no SENHOR, segue o seu caminho, e ele te exaltará para possuíres a terra; presenciarás isso quando os ímpios forem exterminados”... “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”... “Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável. Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa” (Sl 37.11, 22, 29, 34; 2 Pe 3.13; Hb 10.34-36).
Rev. Ângelo Vieira da Silva
Comente essa postagem aqui:
EmoticonEmoticon