BEM AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS


“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).

A quinta bem-aventurança não é uma menção a qualquer misericórdia humana desassociada de Jesus, ou divina que alcança todos os homens. O homem natural pode ser misericordioso, mas sua filantropia não resulta de uma experiência com Deus (At 28.2; At 27.3). Ora, o Mestre fala da misericórdia que resulta de uma relação espiritual com o Senhor. Igualmente, a Bíblia descreve que Deus é amor, o Pai das misericórdias (2 Co 1.3), e muitos acreditam que a misericórdia divina alcançará todos os homens no fim, no dia do juízo. Bem, “alcançar misericórdia” é obra da graça divina, não das obras humanas: “Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia... Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”... “Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Rm 9.15-18; Tg 2.13).

Compreenda: o termo “misericordiosos” (eleemon, gr.) remete àquele que “oferece ou busca ajuda em tempo de aflição”. É mais do que “sentir compaixão na miséria do outro”, pois também envolve àquele que “sente sua própria miséria e precisa de compaixão”. São dois lados de um resoluto ato, não meramente um sentimento ou estado. Como bem declarou o comentarista bíblico Ralph Earle, misericórdia é a “bondade em ação”. O Jesus misericordioso nos ama e decidiu provar esse amor por meio de seu sacrifício: “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.17). Agora, igualmente, os cristãos devem ser misericordiosos uns com os outros (Rm 15.7; Ef 4.32; Cl 3.12) e com o próximo que ainda não conhece o Senhor (Gl 6.10). Desse modo, a quinta bem-aventurança ensina que são extremamente felizes os cristãos que, reconhecendo sua condição de miséria espiritual, recebem o amor de Deus em seu favor e que são, obrigatoriamente, agentes da mesma misericórdia em relação ao próximo, como sinal de gratidão. É por isso que a parábola do credor incompassivo é perfeita para o entendimento da quinta bem-aventurança: “Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?” (Mt 18.32-33). Portanto, como a oração do Senhor expressa, “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores... Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6.12, 14-15).

Finalmente, o Senhor ensina que seu discípulo deve exercer a misericórdia; não é uma opção. Nesse sentido, o cristão misericordioso com seu próximo experimentará a misericórdia divina a cada dia. Para com o benigno Deus será benigno (II Sm 22.26) e cumprirá sua promessa. Qual? Ora, “alcançarão misericórdia”, o ciclo da misericórdia se renovará a cada manhã: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22-23).

Rev. Ângelo Vieira da Silva

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