BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO


“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”... “Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (Mt 5.3; Lc 6.20).

Não poderemos ser cheios enquanto não formos primeiramente esvaziados” (D. M. Lloyd-Jones). É justamente esse o ensino da primeira bem-aventurança. Naturalmente, muitos associam a bem-aventurança com uma condição exterior ou uma espiritualidade inferior. Equívocos! Ora, é certo que a condição exterior não leva alguém à felicidade real. Sabemos que os ricos eram invejados e os pobres eram humilhados no contexto de Tiago, por exemplo: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam? 6 Entretanto, vós outros menosprezastes o pobre. Não são os ricos que vos oprimem e não são eles que vos arrastam para tribunais?” (Tg 2.5-6). Contudo, além de uma percepção material, o livro de Apocalipse ensina como alguém pode ser pobre embora se julgue rico e como pode ser rico em meio à pobreza: “pois dizes [Laodicéia]: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”... “Conheço a tua tribulação [Esmirna], a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás” (Ap 3.17; Ap 2.9).

Igualmente, a bem-aventurança de Jesus não premia aqueles com uma espécie de espiritualidade inferior. “Pobre em espírito” está relacionado ao espírito da pessoa, à sua essência e estado espirituais, não aos seus atos de espiritualidade. Logo, não é esse o sentido da bem-aventurança. A vida espiritual do cristão deve ser rica: “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”... “entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co 8.9; 2 Co 6.10). 

Humildes/pobres” (ptochos, gr.) refere-se àquele que é “necessitado”. Assim, associando-se a expressão “de espírito”, interpreta-se que são extremamente felizes os cristãos que se convenceram de sua pobreza espiritual, tornando-se conscientes de sua miséria e necessidade do Deus vivo, tal como Davi: “Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. SENHOR, não te detenhas!” (Sl 70.5). Ora, Jesus quer cristãos sem orgulho (Lc 18.13; Pv 16.19), que admitem sua condição (Rm 7.14), temem a Deus (Is 66.2) e se arrependem de seus pecados (Jl 2.13; Mt 3.2): “Melhor é ser humilde de espírito com os humildes do que repartir o despojo com os soberbos”... “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado”... “Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o SENHOR, mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra”... “Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal”. Naturalmente, assim serão “ricos de espírito” com uma promessa inabalável. Sim, a bem-aventurança tem sua promessa. Qual é? Obviamente, a posse do reino dos céus: “porque deles/vosso é o reino dos céus”.

Rev. Ângelo Vieira da Silva

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