Se existem datas "tipicamente" americanas que foram importadas para o Brasil, sem muito êxito, são o Thanksgiving Day (Dia de Ações de Graças) e o Black Friday (Sexta Negra). Digo isso porque as aspirações brasileiras em torno dessas datas não chegam perto da realização dos seus criadores. Porém, como fui questionado sobre ambas as datas, gostaria de refletir sobre o antagonismo que percebo entre elas, principalmente no contexto cristão protestante.
O Black Friday é a expressão americana para descontos no varejo. Para mim, nada tem a ver com doutrinas espiritualistas afro-brasileiras, como li recentemente na internet. O Black Friday é puro merchandising, é markentig, é a sexta-feira da quarta semana de novembro em todos os anos. Segundo dados do site oficial brasileiro, o Black Friday tem reunido centenas de lojas virtuais (e crescendo), cada uma anunciando ofertas que poderiam chegar a 75%. Em relação ao ano passado, houve um expressivo aumento de consumo das vendas. Recorde após recorde. Bilhões e mais bilhões de reais.
Grandemente celebrando nos Estados Unidos e Canadá, o Thanksgiving Day (ou Dia de Ação de Graças) é um feriado cristão em gratidão a Deus pelos acontecimentos durante o ano. A história do costume permeia o século XVII, com a imigração de puritanos (protestantes ingleses) para o Novo Mundo. O "Mayflower" levava a bordo muitas famílias que fugiam da perseguição religiosa em busca de liberdade. Os protestantes das 13 colônias fundadas, apesar das adversidades, mantiveram sua fé em Deus; e o Senhor os abençoou. No outono de 1621, tiveram uma colheita tão abençoada quanto abundante. Emocionados e sinceramente agradecidos, reuniram os melhores frutos, e convidaram os índios, para juntos celebrarem uma grande festa de louvor e gratidão a Deus. Nascia o "Thanksgiving Day". No Brasil, inspirados pelo dia norte-americano, desde o Presidente Dutra e a Lei 781, passando pelo Marechal Castelo Branco (1966), o Dia Nacional de Ação de Graças está instituído na quarta quinta-feira de novembro em todos os anos, apesar de uma intensidade diferente.
Definido os termos, reflito: as datas de ambos acontecimentos são próximas, sendo que uma precede a outra; uma fala de consumo, a outra de produção; uma denota desconto a outra profusão; uma estabelece a compra exagerada e a outra a simplicidade da gratidão. Calma! Não sou contra nem uma, nem outra... Só reflito no antagonismo destas realidades. A oposição de idéias é clara.
Gostaria apenas que os leitores do blog Regulae Fidei refletissem sobre os perigos do consumismo desenfreado tão proeminente que é celebrado após o Dia de Ação de Graças. Marketing perigoso. Reflitam sobre a insignificância da comemoração de gratidão em nosso país cristão... Omissão perigosa.
Enfim, a grande verdade é que, para muitos (incluindo cristãos protestantes) o sincero Thanksgiving Day é seu Black Friday bem sucedido. Nesse ponto, não há antagonismo, é mero secularismo.
Rev. Ângelo Vieira da Silva
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