REFLEXÕES NO DIÁRIO DE SIMONTON

É interessante notar que no século XIX a prática de se fazer diários, com anotações de acontecimentos do dia-a-dia, estava muito difundida no hemisfério norte. Esses documentos são de grande valia para uma reconstrução histórica e, por serem textos intensamente pessoais, são marcados com uma franqueza que não se vê em outros escritos.

Em se tratando do diário (duas edições na língua portuguesa) escrito por Ashbel Green Simonton (primeiro missionário presbiteriano no Brasil), percebemos que o mesmo foi escrito com uma linguagem elevada e respeitosa, o que não é muito comum neste tipo de obra. Ele cobre um período de quatorze anos da vida do autor, que começou a escrevê-lo quando tinha dezenove anos de idade, até praticamente o penúltimo ano de sua vida. Como descreve o Dr. Alderi Souza de Mattos, historiador da Igreja Presbiteriana do Brasil, Simonton “registrou observações perspicazes sobre uma variedade de assuntos, desde suas próprias lutas interiores nas áreas vocacional e sentimental, até suas reflexões sobre temas candentes da época, como a escravidão, os problemas políticos e as tensões entre o norte e o sul do país”. Sei que muitos ainda não tiveram o privilégio de ler esse diário, por isso gostaria de compartilhar algumas observações pessoais:

1. Simonton encerra o diário fazendo um retrospecto de sua vida com um resultado.

Sua “auto-condenação” é o resultado. Ele entendeu que realizou seu trabalho da melhor maneira possível, mas pergunta: “Mas, será que progredi na direção do céu”? Talvez essa seja a grande questão que precisamos fazer como igreja, diante da obra para qual fomos chamados. Estamos preocupados com o que Deus tem achado de nosso labor? Ou fazemos para os homens? 

2. Simonton se compara ao publicano e clama:

“Deus, tem misericórdia de mim, pecador”. Certamente essa precisa ser a nossa oração. Assim como Simonton dependeu de Deus também precisamos. Sem O Senhor nada podemos fazer.

3. Simonton fala de algo muito comum em nossos dias.

Por incrível que pareça, já no distante século XIX o missionário falou do problema do ativismo. Mostra seus perigos: “A própria pressão e atividade da vida exterior têm empanado minha comunhão com aquele para quem esses mesmos serviços são feitos. Quantas vezes minhas devoções são formais e apressadas ou perturbadas por pensamentos de planos para o dia!” O que tem tomado conta de nossas vidas: o ativismo ou a devoção? O que será que ocupará nossos ministérios na igreja?

4. Simonton mostra que pecados o atormentam

“Pecados muitas vezes confessados e lamentados tem mantido seu poder sobre mim”. Será que não vivemos algo semelhante? Busquemos a força em Deus assim como o missionário americano fez.

5. Simonton tem um pedido genuíno:

“Quem me dera um batismo de fogo que consumisse minhas escórias, quem me dera um coração totalmente de Cristo”. Desejemos ardentemente sermos revestidos com o poder do alto para a realização dessa grande obra, assim como Simonton.

Rev. Ângelo Vieira da Silva

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