OS ANJOS ELEITOS E A IGREJA DE JESUS

Estudar angelologia, ramo da teologia que estuda os seres angelicais, é um grande desafio. Ainda mais hoje, quando o ensino bíblico nos púlpitos é escasso e muitos cristãos podem ser facilmente iludidos por fundamentos teológicos dissimulados. Para evitar um desvio da verdade quanto ao tema, pretendo colaborar com a compreensão bíblica acerca do ministério dos anjos eleitos em breves pastorais.

Após a série de estudos sobre a natureza e a organização angelicais, bem como a adoração dos anjos em relação ao Criador, ofereço uma breve meditação acerca do serviço dos anjos eleitos em relação à Igreja. Explico melhor: se o primeiro aspecto do ministério angelical se refere a Deus, o segundo se aplica aos cristãos. Dito isto, veremos que o conjunto de atribuições bíblicas dadas aos anjos ao ministrarem à Igreja revela um serviço diversificado e obediente.

Os anjos eleitos são chamados "espíritos ministradores" (Hb 1.14). A palavra “ministradores” (leitourgikos, gr.) se relaciona a realização de um serviço sagrado, como nos casos de Zacarias e Paulo (Lc 1.23; Rm 15.16; 2 Co 9.12). É por isso que os anjos eleitos também são chamados “ministros” (sharath, heb.), termo retomado no contexto de Hebreus a partir dos Salmos (Hb 1.7; Sl 104.4; Sl 103.21). Além disso, dentro do mesmo versículo inicial, são "enviados" (apostello, estão “debaixo de uma missão”) "para o serviço" (diakonia, atender uma necessidade) daqueles que hão de herdar a salvação.

Os anjos eleitos também coparticipam da alegria pela conversão de um pecadorO evangelista Lucas registra uma fala de Jesus que sustenta tal afirmação (Lc 15.10). É bem provável que tenhamos aqui um grande esclarecimento. Considerando todos aqueles que defendem a alegria compartilhada pelos anjos, por Cristo ou até pelo Espírito Santo, nas muitas tentativas de explicação da parábola, creio que o Deus Triúno como a fonte da salvação e os santos anjos como expectadores perspicazes, manifestam o regozijo pela conversão de um pecador coletivamente. Afinal, a comemoração pelo encontro da ovelha foi coletiva (pastor, amigos e vizinhos; Lc 15.6), a comemoração pelo encontro da dracma foi coletiva (mulher, amigas e vizinhas) e, pelo contexto anterior, permeia “o céu” (Lc 15.7). 

Os anjos eleitos testemunham a obediência da Igreja. Essencialmente, dois textos bíblicos sustentam essa afirmação. É evidente que muitas outras passagens dão o mesmo entendimento, todavia, escolho duas em virtude de serem mal interpretadas (1 Co 11.10; 1 Tm 5.21). Resumidamente, depois de avaliar muitas possibiliddades, entendo que tais passagens revelam a presença real dos santos anjos na vida da igreja e, principalmente, no culto. O primeiro texto é uma explanação da conduta apropriada no culto público, tanto dos homens como das mulheres, para que nenhum deles causem desonra à igreja e a Cristo. No segundo texto Paulo cita os anjos eleitos por testemunhas de sua ordenança porque estes estarão presentes no dia do juízo, o que está de acordo com o contexto das cartas (2 Tm 4.1; 2 Tm 2.14) e do Novo Testamento (Mt 16.27; Mt 24.31-33; Mt 25.31; Lc 9.26; 2 Ts 1.7; Ap 14.10; dentre outros).

Os anjos eleitos defendem o povo de Deus. Creio que está esclarecido o serviço protetor dos anjos quanto ao povo escolhido de Deus, seja no contexto de Israel, seja na missão da Igreja (o acampar do Sl 34.7; o guardar do Sl 91.11; os carros de II Re 6.15-17; a proteção dos leões de Dn 6.22; o príncipe de Dn 10.13, 20; guardando os pequeninos Mt 18.10; o livramento de At 5.19; dentre outros). Todos esses textos bíblicos foram explicados nos tópicos anteriores. Louvado seja o Senhor pois a mesma realidade continua em nossos dias.

Os anjos eleitos nos acompanharão até o fim (Lc 16.22). Fundamentar doutrinas em parábolas é demasiadamente perigoso. Entretanto, pensar que as parábolas não corroborem doutrinas pode ser igualmente danoso. Reconheço, porém: é uma tese. É preciso dizer que não há outros textos bíblicos que a amparem claramente. É bem possível que assim seja, pois não vejo motivo para Cristo utilizar na parábola um conceito contraditório à verdade. Assim como Biblly Graham, Matthew Henry, João Calvino e muito outros bons teólogos, creio que os anjos são espíritos enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação “não só enquanto eles vivem, mas também quando eles morrem”.

De um jeito ou de outro, os anjos sempre estiveram ao nosso redor. Seja na história ou nas estórias, na Bíblia ou em outros escritos religiosos, em filmes ou séries de televisão, os anjos estão lá. Assim, em meio a esse vasto e observável universo angelical, oro para que a Igreja de Jesus veja os seres angelicais como eles realmente são: seres criados, espirituais, incorpóreos, racionais, morais, poderosos, imortais, numerosos e organizados (querubins, serafins, principados, potestades, poderes, tronos e domínios/soberanias), nomeados ou não (Gabriel, o arcanjo Miguel, Satanás), sejam eles eleitos (anjos que guardam) ou reprovados. Os anjos eleitos adoram a Deus audivelmente e ministram aos cristãos diversificadamente.

Rev. Ângelo Vieira da Silva

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