ATITUDES ÚTEIS DIANTE DAS TENTAÇÕES


“Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (Gl 6.1).

Ao final do discurso do fruto do Espírito e obras da carne (Gl 5), Paulo ensina aos crentes como tratar aqueles que pecaram e que necessitam de correção. Ora, todos estão sujeitos a pecar, a pisar fora do caminho, um contraste com o “andar no Espírito” (Gl 5.16). Todos tropeçamos em muitas coisas (Tg 3.2). Todos devem ser corrigidos com brandura, restaurados à condição anterior, com bondade e humildade, principalmente aqueles que foram surpreendidos na falta, que foram enganados e pecaram. Como disse o reformador João Calvino, “toda reprovação piedosa visa a restauração do caído e sua recondução à integridade”. Por outro lado, o pecado deliberado, contumaz, aquele obstinado desprezo por Deus deve ser tratado com a firmeza e severidade que as Escrituras ensinam (Mt 18.15-17).

Dito isto, é fundamental compreendermos que todos devem se autoexaminarem constantemente  (“guarda-te”), um difícil e necessário autoexame. O erro alheio só será tratado por “espirituais” se esses forem verdadeiros críticos de si mesmos. A aplicação desse ensino paulino deve ser aliada aos muitos ensinamentos bíblicos que ensinam as atitudes úteis diante das tentações, as quais combino e sintetizo abaixo:

4.1. Combine Vigilância e Oração.

No Getsêmani, às portas de viver terríveis momentos no lugar dos pecadores, Jesus conclamou seus discípulos Pedro, Tiago e João a vigiarem com Ele, mediante oração (Mt 26.40-41; Lc 22.40, 46). Combinemos vigilância e oração. Eis o propósito para discípulos de Cristo até hoje: “para que não entreis em tentação”. Este é um ensino para todos, uma atitude combinada que ajudará a todos. Não há discípulos tão fortes que não precisem de vigiar e orar para que não entrem em tentação.

4.2. Combine Conhecimento e Sensibilidade.

A lembrança do autor de Hebreus remete ao "ouvir a voz de Deus" e ao "não endurecer o coração", como em alguns exemplos do passado (Hb 3.7-9) tratados como provocação, rebelião. É preciso conhecer o exemplo do passado (Sl 95.7-11), toda a Escritura, para que não incorramos nos mesmos erros. Tais textos são uma advertência contra a repetição da rebelião. Eis o conhecimento que se espera, a relação do “hoje” com o “como foi no dia”. Portanto, “ouvirdes a sua voz” remete ao “ouvir um professor”, considerar que ele lhe apresenta os exemplos do passado esperando seu aprendizado. O rebanho do Supremo Pastor possui conhecimento e é sensível espiritualmente (Jo 10.3, 16, 27).

4.3. Combine Temor e Tremor.

Assim como o texto bíblico anterior (Hb 3.7-9), outros passagens revelam que o homem tentou a Deus (Sl 78.40-41; At 5.9). Tal atitude revela a ausência de temor e tremor (Fp 2.12). Tentar a Deus é o mesmo que testar sua paciência (“quantas vezes”). Eis a sinfonia da tragédia, à contramão do mandamento divino (Dt 6.16; Mt 4.7)! Mas, o que é “temor e tremor”? A expressão paulina (1 Co 2.3; 2 Co 7.15; Ef 6.5) fala de humildade espiritual, obediência afetuosa e respeito sincero.

4.4. Combine Fé e Confiança.

A vitória e presença de Cristo nos ajuda a suportar e vencer quaisquer lutas (Hb 2.16-18; Hb 4.15-16). Seu sacerdócio não é humano, falho (Hb 5.2; Hb 7.28). É preciso ter fé e confiança nesta declaração. Certos de seu socorro, venceremos as tentações e provações (Ap 3.10). Aproximemos do Senhor com a liberdade que Ele mesmo nos proporcionou, "sem segredos", com a fé atrelada a este encorajador convite (Hb 10.22-23; Hb 11.6). 

Concluindo, pensemos numa citação. Apesar de ser um “cristão unitarista”, o advogado John Quincy Adams, o sexto presidente dos Estados Unidos, certa vez comentou sobre a importância das tentações para a igreja. Acertadamente disse: “Toda tentação é uma oportunidade de nos aproximarmos de Deus”. É o momento de assumirmos uma posição forte diante das tentações, muito diferente daquela frágil desculpa: "a carne é fraca". Sendo assim, pela graça divina, obteremos êxito em nossa oração mais essencial: “e não nos deixes cair em tentação” (Mt 6.13).

Rev. Ângelo Vieira da Silva

O LIMITE DAS TENTAÇÕES


“Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1 Co 10.13).

O puritano John Owen (1616-1683) acertadamente declarou: “é verdade que Deus a ninguém tenta, pois a tentação leva formalmente ao pecado; mas ele tem controle sobre as tentações”. Apesar desse pensamento ser bíblico, mesmo cientes do exemplo do Mestre no deserto e da tríade original das tentações, pode aparentar-nos que as tentações são mais fortes do que os cristãos podem suportar. Afinal, usam o texto: “a carne é fraca” (Mt 26.41).

Entretanto, há uma limitação decisiva nas tentações. Antes de compreendê-la, é preciso situar o texto supracitado. Paulo não quer que os cristãos “abastados” de Corinto esqueçam o exemplo de seus pais. Ora, se o povo de Israel na era mosaica viu feitos poderosos de Deus, conhecia sua vontade acerca do pecado e, mesmo assim, pecou, os cristãos da nova dispensação não poderiam incorrer no mesmo erro frente ao paganismo de seu contexto. O comparativo paulino demonstraria que a “salvação em Jesus não torna ninguém invulnerável à queda” (Keener). O Deus que puniu os pais (israelitas), que pereceram no deserto, puniria também os "filhos" (coríntios, 1 Co 10.5-6, 9-11). Ao que parece, a Igreja de Corinto está sofrendo com o problema da idolatria e suas concomitantes. É igualmente verdadeiro que havia entre aqueles cristãos um excesso de confiança que os levou ao descuido no trato com tais pecados (1 Co 5.11). Deveriam, pois, abusar da liberdade que receberam em Cristo? Jamais! “Portanto, meus amados, fugi da idolatria”, registrou Paulo (1 Co 10.14).

Ao invés de se crer em uma natureza sobre-humana, as tentações são limitadas ao nível humano, pois se diz “que não fosse humana” (anthrôpinos, gr.), o que é pertencente à realidade humana. Portanto, não houve nada de excepcional, mas meramente humano. O que sobrevêm ao homem tentado é sua própria cobiça, quando esta o atrai e o seduz (Tg 1.13-15). Por isso, Paulo exortou os cristãos de Corinto a tomarem cuidado (1 Co 10.12; ver também Pv 16.18), pois os israelitas tinham sido presunçosos e colheram juízo.

As tentações também são limitadas por Deus, que não permite que seus servos sejam “tentados além de suas forças” (Dn 3.17; 2 Pe 2.9). “Nenhuma tentação é inerentemente mais forte do que os nossos recursos espirituais” (McArthur), pois é o Senhor que nos guarda (2 Ts 3.3). É interessante observarmos a expressão/preposição “juntamente com” (sum, gr.). Ela garante que, no mesmo instante que somos tentados, temos a capacidade para suportar a tentação (Ef 6.13). Se somos tentados temos, da parte de Deus, a capacidade para suportar tais provas, “aguentar a carga, como algo colocado sobre os ombros”. Assim, Jesus é a saída de qualquer prova (Hb 2.18), pois “suportou mais do que jamais poderíamos ser chamados a suportar” (McArthur).

Como você responde às tentações de Satanás quando está sozinho e sem ninguém observando?

Rev. Ângelo Vieira da Silva

A TRÍADE ORIGINAL DAS TENTAÇÕES


A leitura do segundo capítulo da carta aos Efésios vai além dos ensinamentos quanto a graça, o pecado e a salvação; também revela uma tríade que atua sobre os homens, principalmente sobre os não-convertidos. Paulo fala do “curso deste mundo”, do “principe da potestade do ar” e das “inclinações da carne” (Ef 2.2-3).

Diferentemente dos filhos da desobediência, como filhos da obediência, nos almodamos à santidade (1 Pe 1.14; Tt 2.12; Tt 3.3; 1 Pe 2.1; 1 Pe 4.2-3; 1 Ts 4.3). É inevitável, porém, que sejamos tentados por esta tríade da qual se originam muitos caminhos tortuosos. Conhecê-la é fundamental para a vitória.

1. O Mundo

Paulo registrou que os filhos da desobediência andam no “curso deste mundo”.  João descreveu como o desejo mundano é uma armadilha aos filhos de Deus (1 Jo 2.15-17), que não devem seguir esse curso, pois o mundo jaz no maligno (1 Jo 5.19). O mundo enquanto sistema anti-Deus não ama a Igreja (Jo 15.19) e a Igreja não deve amar o mundo (Tg 4.4). Não sejamos como Demas (2 Tm 4.10a).

2. A Carne

Lembre-se do registro paulino: "andamos, outrora, segundo as inclinações da nossa carne". O texto de João, lido anteriormente, menciona a “concupiscência da carne”. De fato, creio que há no cristão redimido uma luta pela santidade. A carne milita contra o Espírito que nele habita, e vice-versa (Gl 5.16-17, 24; Cl 3.5-10). Ora, a carne, a natureza pecaminosa, produz toda sorte de pecado (1 Tm 6.10; Mt 6.24; 2 Pe 2.10, 18; Jd 1.16-18). Portanto, não devemos nos dispor em nada para ela (Rm 13.14). A coerência com o caráter de Cristo é obrigatória (Gl 6.8; Rm 8.5; Rm 6.12).

3. O Diabo.

Falemos, agora, do príncipe da potestade do ar, do espírito que atua nos filhos da desobediência. “Sede sóbrios e vigilantes” (1 Pe 5.8), esta é a ordem em relação ao principal antagonista espiritual da Igreja: o Diabo. Como adversário, anda ao nosso derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar. Foi assim com os discípulos, mas o Senhor orou por eles (Lc 22.31). Somos suas “presas”. Ele se opõe à Igreja (Zc 3.1), é seu acusador, o semeador do joio (Mt 13.39). Daí a Escritura fortalecer o entendimento que o pecado também é obra do maligno (Jo 8.44; 1 Jo 3.8). O cristão redimido resiste seu inimigo (Ef 6.11; Tg 4.7), procura não lhe dar lugar (Ef 4.27).

Como você responde às tentações de Satanás quando está sozinho e sem ninguém observando?

Rev. Angelo Vieira da Silva

O EXEMPLO DE CRISTO NAS TENTAÇÕES


Medite na frase:
“é melhor evitar a isca do que debater-se na armadilha”.

A isca trata-se de algo que seduz, chama, atrai. É a tentação. Evitar a isca é o mesmo que renunciar a algo desejável aos nossos próprios olhos. A armadilha é um estratagema, arma, ardil. É o pecado. Debater-se na armadilha é o mesmo que reconhecer a queda por um erro sem força para se libertar. Esta pode ser uma comparação na relação entre tentação e pecado que todos nós deveríamos pensar.

Quando pensamos em viver na direção do Espírito Santo de Deus esbarramos no obstáculo, na armadilha do pecado. Contudo, esse não é concebido sem que ocorra, via de regra, algo que as Escrituras chamam de tentação. De Gênesis a Apocalipse encontramos muitos exemplos desta realidade e a oração que se espera é essa: “não nos deixe cair em tentação” (Mt 6.13). Jesus fez menção da tentação no modelo de oração ensinado pela peculiaridade comum desta na vida dos crentes. O sentido é de uma petição por santidade, diante da constante possibilidade de fazer o que desagrada a Deus. Portanto, se desejamos intensificar nossa vida espiritual precisamos vencer as tentações colocadas diante de nós. Como?

O primeira estudo da série promoveu a primeira atitude: conhecer o exemplo do mestre nas tentações. A partir das narrativas bíblicas sobre a tentação de Jesus no deserto (Mt 4.1-11, Mc 1.12-13, Lc 4.1-13), podemos extrair alguns princípios subjacentes das tentações reais superadas pelo nosso Senhor. É fato que a tentação de Jesus no deserto não é análoga à vida cristã em muitos sentidos, mas em outros pode ser. Afinal, quando nosso Senhor estava sendo tentado pelo Diabo Deus o estava provando. Portanto, vejo que:

1.1. A tentação é permitida por Deus (Mt 4.1; Mc 1.12).

Jesus foi levado ao deserto pelo Espírito Santo com um propósito definido: ser tentado pelo diabo. Jesus foi levado da margem do Jordão, onde fora batizado, para o deserto da tentação, onde seria provado pelo Diabo. O mistério da encarnação do Verbo e a compreensão das duas naturezas de Cristo nos levam a compreender que Jesus foi tentado acerca de sua impecabilidade, não divindade: “se és Filho de Deus”. Ele saiu vitorioso.

1.2. Ser cheio do Espírito não isenta da tentação (Lc 4.1).

Após ver a descida do Espírito Santo (Mt 3.16) e ouvir a voz do Pai (Mt 3.17), Jesus foi tentado. Lucas registra que Ele estava cheio do Espírito Santo. Além disso, toda a Escritura emanava dele quando dizia: “está escrito”. Este enchimento, conhecimento e intimidade não proporcionaram a ausência da tentação, mas é indiscutível que são armas da vitória sobre a mesma.

1.3. A tentação ocorre nos instantes cruciais (Mt 4.2; Lc 4.2).

Entendo que as investidas do Diabo ocorreram durante os quarenta dias e noites e que o ápice se deu com o agravamento da fome de Jesus. Certamente esse foi o momento de maior vulnerabilidade. Veja que o Deus-Homem sofre todas as consequências físicas advindas pela falta de alimento. É justamente por seu sofrimento e vitória que Ele poderá sempre nos socorrer por sua graça (Hb 2.18).

1.4. Sempre haverá um agente e meio da tentação (Mt 4.3, 5-6, 8-9).

O agente, ou tentador, aproximar-se-á de nós sempre com duras provas. Seja o tentador exterior (o diabo, outro ser humano) ou o interior (nossa natureza pecaminosa), os meios serão estratégicos. O que será: pão (satisfação física), circo (satisfação popular) ou poder (satisfação sem cruz)?

1.5. Sempre haverá uma nova tentação (Lc 4.13).

Lucas descreve o caráter das tentações: de toda sorte. E mais: apartou-se o diabo, até momento oportuno. A vitória de Cristo foi grandiosa, real, maravilhosa, mas não foi final. Satanás continuou voltando para tentá-lo, para tentar fazê-lo cair. O seu propósito era enganar e seduzir o Messias, a fim de que, ao lado deste, pudesse também destruir o seu reino, afastando-o da cruz.

Ao final de tudo, “eis que vieram os anjos e o serviram” (Mt 4.11). Jesus foi provado e se confirmou sem pecado. Aquele que sentiu fome e venceu o deserto foi servido pelos anjos. “Ao passo que o primeiro Adão sucumbiu por causa de uma simples sugestão tentadora, o último Adão suportou tudo o que inferno pôde lançar contra ele em uma prova isolada e solitária com duração de 40 dias” (R. C. Sproul).

Portanto, finalizo essa primeira parte do estudo, relembrando que Jesus é o sacerdote que se compadece de nossas fraquezas, pois foi também tentado e, por isso, pode socorrer os que são tentados (Hb 4.15).

Agora, pense comigo: como você responde às tentações de Satanás quando está sozinho e sem ninguém observando?

Rev. Ângelo Vieira da Silva