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LIÇÃO 04: O GOVERNO DA IGREJA - MINISTRO DO EVANGELHO, PASTOR

 


Há uma distinção bíblica que diferencia os presbíteros na Bíblia e nos manuais presbiterianos. Em contraste com os presbíteros eleitos nas igrejas locais, Paulo fala acerca dos presbíteros que presidem e se afadigam no ensino da Palavra. Ouça e compartilhe com seus contatos. Deus nos abençoe.

DESABAFOS DE UM JOVEM PASTOR


Sou um pastor presbiteriano típico, como muitos outros de nossa nação cristã. Convertido, fui batizado e professei a fé. Chamado e vocacionado, fui aprovado pela igreja local e pelo respectivo Presbitério, sendo enviado ao Seminário para melhor preparo. Terminados os estudos teológicos, a árduos exames presbiteriais fui submetido e, benevolentemente, aprovado. O resultado foi a ordenação ao Sagrado Ministério da Palavra. A partir daquele dia era mais um Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana do Brasil. Pastorei e estudei um pouco mais. Validei os créditos de Teologia. Pastoreei e também conclui o mestrado. Enfim, muitos viveram o mesmo que eu. Aponto uma trajetória comum com a esperança de ser ouvido pelos companheiros. São reflexões pessoais sobre temas incomuns à tal distinta jornada. É incrível como um jovem pastor já tem muito a desabafar.

"Desabafos", essa foi a palavra que escolhi para expressar os principais pensamentos e sentimentos que me embaraçam no exercício franco do Ministério da Palavra desde que me formei em Teologia, há quase quatorze anos. São tantas declarações, aconselhamentos, visitas, leituras, ultrajes, visões, gestos, perseguições e percepções do mundo ao redor que qualquer jovem pastor ficará assustado, isso é, aqueles que queiram, sinceramente, se dedicar ao Reino. Receio por onde iniciar, mas devo desabafar.

Desabafo...No meu tempo (nem há quinze anos atrás!) havia uma legítima atmosfera pelo exercício pastoral fiel. Dela exalei, me preparei, estudei, formei e pastoreei desde então. Como num fenômeno climático devastador, a atmosfera mudou; os ares são outros. Não se pensa tanto em pastorear, "cuidar de", a não ser de si mesmo. As inspirações são a obtenção de títulos, cargos eclesiásticos de expressão, as igrejas maiores, os grandes centros; como se isso fosse ajudar a "Maria" cheia de fé que jaz no esquecimento da congregação porque o Pastor simplesmente não pastoreia. Opa! Não me julgue rápidamente... Eu mesmo estudo e encorajo a todos no caminho da busca pelo conhecimento. Minha crítica é focada em pastores desobrigados com o Ministério, que se escondem no slogan "meu dom é o de ensino". Ah, por favor! Não me venha com "xurumelas"!* Se és Pastor, és Mestre - ou deveria ser - é possível conceber a ideia de um Pastor que não ensine?

Já me sinto afadigado por ver gente despreparada usar o pastorado como trampolim para um Mestrado, Doutorado, para as Capitais e os Reais. Fazem da Teologia o "carro-chefe" e nem mesmo leram completamente a Regra, uma única vez sequer. As igrejas? Só enfraquecem. Enquanto desejam ouvir uma mensagem bíblica que lhes seja relevante, os ditos pastores preferem doutrinar a Confissão, o Credo e a Sistemática que podem ser errantes - são boas, mas não a primazia. Vigio, por mim. Não quero ser assim. Dona "Maria", precisas de mim?

Desabafo... Nos dias de aspirantado** ouvi de um mentor que pastorearia em tempos difíceis. Profecia? Revelação Celestial? Não, foi pura percepção de uma realidade onde o Ministério é acusado de Profissão, onde o Pastor é ladrão e o Ladrão é pastor, onde o Protestante é travestido de Evangélico (no sentido pejorativo do termo), onde o Culto Solene adquire status de comércio e busca por prosperidade, onde a quantidade sem qualidade é melhor do que a qualidade com quantidade.

Há dias em que penso em desistir, abandonar tudo. Seria apenas eu? Duvido. O pastor dedicado ao chamado genuíno sofre, é perseguido, incompreendido, cobrado como um empregado. Se vê espreitado entre satisfazer o Senhor que o arregimentou ou amaciar o ego da liderança que o pagou. Enquanto ora para o Senhor abrir os olhos do pecador, vê ao seu redor a hipocrisia dos fariseus pós-modernos, cegos e guias de cegos. Todavia, lembro-me do Supremo Pastor e as nuvens escuras se desfazem. Tudo se dissipa. Os olhos são descerrados e a mente recorda: o “Chamado”. Sim, a vocação sustenta nestes dias maus. A convicção de que Deus chamou dá força para seguir em frente e, mesmo angustiados na alma, tentamos ser pastores segundo o coração de Deus. Afinal, Ele tem um propósito para cada um de nós neste Ministério.

Imagino quantos desabafos poderia descrever... muitos seriam! Mas, quem ouvirá ou lerá sobre eles? Quem os reproduziria ou os subscreveria? Penso em mim mesmo. Escrevo para mim, para me lembrar. Não posso me conformar. Será possível mudar esta realidade? Quem sabe, melhorá-la, pelo menos? Enquanto há vida, há esperança, devo rememorar. Os desabafos são a oportunidade de dizer o que muitos escondem, de revelar que somos apenas simples homens. Todos precisamos desabafar. Me resta registrar: quero trazer a memória o que me pode dar esperança.

Rev. Ângelo Vieira da Silva

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* Expressão humorística bem conhecida.
* Na Igreja Presbiteriana do Brasil, ser Aspirante é o primeiro passo no ingresso ao Ministério Pastoral.

A PEDAGOGIA DE JESUS


Jesus não pertenceu às classes que inter­pretavam minuciosamente a Lei, mas ensinou com profundidade. Note que Cristo Não se distinguiu como "agitador das massas". Ele não comprometeu sua mensagem com apelos em reuniões populares, práticas ritualistas ou manobras políticas. O Mestre confiou sua Causa aos prolongados e pacientes processos de ensino e de treinamento. Sim! Ele não se distinguiu primeiramente como orador, reformador, ou chefe... Mas, como Mestre: "a principal ocupação de Jesus foi o ensino. Algumas ve­zes ele agiu como curador, outras vezes operou milagres, pre­gou frequentemente; mas foi sempre o Mestre. Ele não se pôs a ensinar porque não tivesse outra coisa a fazer; mas, quando não estava ensinando, estava fazendo qualquer outra coisa. Sim, ele fez do ensino o agente principal da redenção” (J. M. Price).

A ênfase que Jesus deu ao ensino ressalta do fato de ser reconhecido como Mestre, chamado de Mestre, Professor ou Rabi; a mesma idéia geral expressada por Nicodemos quando disse: "Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus" (Jo 3.2). Nos Evangelhos, Jesus é cha­mado Mestre nada menos que 45 vezes. Somando-se todos os termos equivalentes a Mestre, temos o total de 61. Fala-se em Jesus ensinando 45 vezes; e 11 pregando. E, assim mesmo, pregando e ensinando (Mt 4.23): "ensinando em suas sinagogas e pregando o evangelho do reino". Outrossim, Jesus a si mesmo se chamava Mestre (Jo 13.13). Também dizia ser "a luz", vocábulo que traz a idéia de instrução.

Outra indicação dessa ênfase sobre o ensino é a termino­logia empregada para descrever os seguidores e a mensagem de Jesus. Não são eles chamados súditos, servidores ou camara­das. A palavra cristão só é empregada três vezes no Novo Testamento para caracterizá-los e, assim mesmo, uma vez, como zombaria. No entanto, vemos a palavra discípulo, que significa aluno ou aprendiz, empregada 243 vezes para referir-se aos seguidores de Jesus. A mensagem de Jesus diz-se ser ensino (39 vezes) e sabedoria (06 vezes).

Também se revela a ênfase do Mestre em ensinar no modo entusiasta e até agressivo pelo qual externou sua atividade educadora. Ele ensinava no Templo, nas sinagogas, no monte, nas praias, na estrada, junto ao poço, nas casas, em reuniões sociais, em pú­blico e em particular. "Relutava mesmo em curar, preferindo aproveitar a oportunidade para apresentar sua mensagem" (Price). Ma­teus ressalta: "andava Jesus por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas deles, e proclamando as boas-novas do reino, e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo" (Mt 4.23).

Toda a obra de Jesus estava envolta numa atmosfera didática, não tanto em preleções unilaterais, pois observamos que os ouvintes se sentiam à vontade para lhe fazer perguntas e ele, por sua vez, lhes propunha questões e problemas. Assim, Cristo preparou um grupo de Mestres para que levassem avante sua obra: "no decorrer dos últimos dias de sua traba­lhosa vida, ele se dedicou ao ensino e preparo do pequeno grupo de discípulos que a ele se agregara” (Price). Assim, Jesus enviou seus discípulos aos confins da terra para que fizessem novos discípulos (se matriculassem na Escola de Cristo), para batizá-los (uma orde­nança educadora) e para instruí-los na observância de todas as coisas que o Mestre tinha mandado (Mt 28.19-20).

Pensemos sobre nossa dedicação ao aprendizado em Cristo... Quanto tempo semanal dedicamos para aprender aos pés do Mestre? Jesus viu no ensino a gloriosa oportunidade de formar os ideais, as atitudes e a conduta dos seus seguidores. Não pensemos diferente.

Rev. Ângelo Vieira da Silva
Adaptado do livro "A pedagogia de Jesus", de J. M. Price

OS DIÁCONOS DA IGREJA DE JESUS

“Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus” (1 Tm 3.13)

A palavra “diácono” (diakonia, gr.) pode ser traduzida por “serviço, contribuição, missão”. O diaconato é um ministério gracioso (Rm 12.7) que o Senhor instituiu na era apostólica. Para que os diáconos possam desempenhar seu papel de forma correta é necessário que a igreja os eleja sob a vontade de Deus, compreendo essencialmente que:

1) SER DIÁCONO SIGNIFICA SERVIR.

Uma das traduções da palavra diakonia é serviço. É muito difícil encontrarmos servos segundo Mateus 20.26: “Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva”. Entretanto, essa é uma exigência e uma razão de ser do diácono. Os apóstolos tinham o ministério arraigado no dedicar-se à Palavra e à oração. Eles não podiam mais cuidar diretamente da distribuição diária. Assim, iluminados pelo Espírito Santo do Senhor, conclamaram a igreja para que elegesse homens que se encarregassem do serviço da distribuição diária das viúvas que estavam sendo esquecidas (At 6.1-4), homens para servir. Lembre-se: Um verdadeiro diácono não serve porque é diácono, mas é diácono justamente porque serve.

2. SER DIÁCONO SIGNIFICA CONTRIBUIR.

Mais uma tradução da palavra diakonia pode ser lembrada: como distribuição ou contribuição. O diácono não contribui apenas para causas sociais ou para o bom andamento do culto; ele contribui para o crescimento do Reino de Deus com sua boa reputação (At 6.3). Parece haver um jogo de palavras: o diácono distribui em seu ministério e contribui com esse mesmo ministério para a propagação do evangelho. Segundo 1 Tm 3:8-10, os diáconos devem contribuir sendo respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância, conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Lembre-se: Um verdadeiro diácono não contribui porque é diácono, mas é diácono justamente porque contribui.

3. SER UM DIÁCONO SIGNIFICA TER UMA MISSÃO.

Diakonia pode ser traduzida como missão. Mas, qual será a missão do diácono? Manter a ordem no templo? Cuidar para que as crianças não fiquem sempre perambulando durante o culto? Levar um copo de água para o Pastor? Não é apenas isso... Sim, ser diácono é ter uma missão; principalmente, a missão de ajudar ao necessitado, ao pobre, à viúva, ao debilitado. É a missão do socorro, da misericórdia. Os diáconos devem amar os que muitas vezes são odiados e socorrê-los. Portanto, o diácono se dispõe e cria a mesma disposição Dessa missão no coração da Igreja do Senhor. Sendo assim, ele será um obreiro aprovado (2 Tm 2.15). Assim, um verdadeiro diácono não ama porque é diácono, mas é diácono justamente porque ama e está sempre pronto a cumprir sua missão de socorro.

Rev. Ângelo Vieira da Silva

ANCIÃOS E PRESBÍTEROS: OS PASTORES DO REBANHO DE DEUS


“Fiel é a Palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” (1 Tm 3.1). Sim, a aspiração da qual o apóstolo Paulo se refere aponta para aqueles que são chamados para liderar a Igreja de Deus. Seja qual for o nome (episcopado, bispo, mestre, ministro, presbítero, ancião, anjo da Igreja, embaixador, evangelista, pregador, doutor, despenseiro dos mistérios de Deus, dentre outros), as Sagradas Escrituras descrevem as qualificações e funções daqueles que são os verdadeiros pastores do rebanho de Deus. Tais títulos não descrevem graus diferentes de dignidade, mas as funções honrosas dos que são chamados para cuidar, ensinar, administrar, supervisionar e amar a Igreja de Jesus.

O jovem pastor Timóteo foi instruído por Paulo sobre as qualificações indispensáveis para aqueles que almejavam o ‘‘episcopado’’, o mesmo que ‘‘ser bispos’’ (1 Tm 3.2; Tt 1.7; 1 Pe 2.25) ou ‘‘presbíteros’’ ─ esse último percebido na maioria dos textos que tratam do assunto no Novo Testamento (At 11.30; At 14.23; At 15.2, 4, 6, 22-23; At 16.4; At 20.17; At 21.18; 1 Tm 5.17, 19; Tt 1.5; Tg 5.14; 1 Pe 5.1; 2 Jo 1.1; 3 Jo 1.1). Ora, tal ofício é uma excelente obra que todos os homens da Igreja deveriam almejar.

O texto hebraico e grego, o Antigo e o Novo Testamentos, esclarecem as atribuições dos pastores do rebanho de Deus. Ora, o neo-testamentário ‘‘presbítero’’ (presbyterós, gr.) é o vétero-testamentário ‘‘ancião’’ (zaqen, heb.). Ambas as palavras designam um ofício de liderança. Não que todo líder tenha que ser idoso, pois os termos também são usados para os líderes sem referência à sua idade, mas que é necessário que sejam experientes e experimentados, exemplos para todos. Por isso, abaixo faço um breve panorama do pastoreio do rebanho de Deus sob a perspectiva do ancião.

1) O ANCIÃO NO ANTIGO TESTAMENTO.

A liderança através de um concílio de homens chamados “anciãos” era muito familiar aos judeus, afinal, era uma das instituições mais antigas e fundamentais de Israel, remontando ao cativeiro egípcio (Ex 3.16, 18). Os anciãos eram os representantes oficiais do povo, chamados de “anciãos de Israel”, “anciãos dos filhos de Israel” ou “anciãos do povo”. Sendo mencionados centenas de vezes no Antigo Testamento, tinham o papel fundamental de liderar, o que fica evidente em sua participação ativa em cada evento decisivo da história de Israel. Deus reconheceu o papel de liderança dos anciãos enviando Moisés primeiramente a eles para anunciar a libertação do cativeiro (Ex 3.16,18; Ex 4.29; Ex 12.21; Ex 17.5-6; Ex 18.12; Ex 19.7; Ex 24.1, 9, 14; dentre outros).

2) O ANCIÃO NO NOVO TESTAMENTO.

No Novo Testamento os anciãos são chamados de presbíteros. À luz do livro de Atos dos Apóstolos e das cartas, vemos que os presbíteros são os representantes oficiais da Igreja com autoridade semelhante ao dos apóstolos. Eles recebem e administram recursos materiais (At 11.29-30), julgam questões doutrinárias (At 15.1-29), oferecem conselho e resolvem conflitos (At 21.18-25). Lendo-se as muitas passagens bíblicas que envolvem os presbíteros fica evidente que os mesmos foram colocados à frente da Igreja pelo próprio Deus, com a tarefa de supervisionar o povo e, assim, cumprir o mandamento de ‘‘pastorear o rebanho de Deus’’ (1 Pe 5.1-4).

Portanto, os presbíteros são os verdadeiros pastores da Igreja. Devemos orar por eles antes, durante e depois das eleições/ordenação/investiduras. Apesar de ser uma obra excelente, é repleta de sofrimentos que podem ser resumidos nas palavras de Jesus: ‘‘o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça’’ (Mc 8.20). Por isso, ore e creia: ‘‘Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência’’ (Jr 3.15).

Rev. Ângelo Vieira da Silva