São muito comuns em nosso país as chamadas "Festas Rurais". Com a realização de rodeio profissional todos os dias, shows e grande cavalgada, sempre se espera um grande ajuntamento de pessoas no Parque de Exposições, por exemplo. No interior, é natural que um pastor seja procurado por muitos cristãos desejosos por uma uma opinião, uma palavra, uma posição, que os ajudem a entender se devem ou não participar de uma festa rural. O motivo, via de regra, envolve práticas religiosas, consumo de bebidas alcoólicas e músicas seculares.
Antes de qualquer coisa, creio que esta reflexão valha para esclarecer como se dá o envolvimento do cristão no mundo à qual está inserido. Por "cristão", refiro-me àqueles homens e mulheres que recebem as Escrituras Sagradas como Palavra de Deus, como norma de fé e prática. Por "festas rurais" exponho aqueles ajuntamentos sociais onde é possível assistir rodeios, cavalgadas, exposição de animais, bebidas e comidas em fartura, parque de diversões, shows, boates, etc.
O cristão que medita, porque crer também é pensar, não é alienado. Diante de uma festa como esta, ele facilmente reconhece aspectos positivos e negativos. Sim, é possível.
Para uma cidade de interior, uma festa sempre é oportunidade para ganhos econômicos e contentamento da população. Obviamente, os comerciantes venderão mais nos dias da festa. O povo, sofrido e aguerrido, vê nesse momento uma oportunidade de descanso "d'alma", de aliviar sua dor, de cantar, de curtir, de "afogar as mágoas", enfim. Para estes, isto é muito bom, é positivo.
Por outro lado, a festa chega ao fim e, com ele, permanecerão os dias de um comércio em baixa, amornecido. Restará a ressaca, a indisposição e o cansaço, pois os problemas não sumiram com o apagar das luzes. Muitos beberam e gastaram mais do que deviam. Talvez brigaram com outrem. Por sorte, não sobrecarregarão o hospital e a polícia com situações que poderiam ter sido evitadas. Eis o lado negativo de uma festa.
Dito isto, fica a grande pergunta: "e o cristão? Pode participar?". Acho que a pergunta certa seria: o que a Bíblia ensina sobre o comportamento do cristão no mundo? Permitam-me sistematizar parte de seu precioso ensino em duas declarações que, mesmo que aparentem, não são excludentes. São os dois lados de uma mesma moeda.
1) O CRISTÃO NÃO FAZ PARTE DESTE MUNDO.
É bem possível que já tenha lido que a Igreja não pertence a este mundo (Jo 15.18-19), que o sistema jaz no maligno (1 Jo 5.19) e que não devemos amar as coisas que há no mundo (1 Jo 2.15). "Por isso não se deve participar de festas rurais", afirmam alguns. O textos são de Deus, são bons. Contudo, é triste observar que muitos cristãos são manipulados por suas lideranças com simples proibições pautadas em falta de exegese, hermenêutica e bom senso. Se o cristão não pode participar de eventos comunitários (que, não por nossa escolha, envolvem questões religiosas, bebidas alcoólicas e músicas seculares) a partir desses textos, como ficam os casamentos, as formaturas, os passeios turísticos, os aniversários e muitos outros eventos sociais que contemplam a mesma realidade? Nos ausentaremos desses também? Entenda: a Igreja não faz parte deste mundo, isto é, sua esperança está no mundo porvir. O mundo é a humanidade transviada dos padrões divinos, conduzido e cegado pela antiga serpente. A Igreja deseja andar pelo Caminho aplanado da graça, pastoreada e esclarecida pelo Senhor Jesus. O cristão amadurecido fala de Deus no meio de outros deuses (At 17.23), sabe comer, beber e ouvir músicas para a glória de Deus (1 Co 10.31).
2) O CRISTÃO FAZ PARTE DESTE MUNDO.
Jesus não orou para que a Igreja fosse tirada desse mundo (Jo 17.15), afinal ela é sua luz (Mt 5.14); sua missão é no mundo (Mc 16.15). Muitos cristãos enfatizam apenas a primeira declaração, se esquecendo da segunda. São taxados de "santinhos", porque proíbem certos "pecados" e cometem outros grosseiros no dia-a-dia. A verdadeira santidade consiste em se manter puro no meio da iniquidade. A verdadeira Igreja está perto das pessoas que ainda não são Igreja. Quanto mais a Igreja se isolar do mundo, das pessoas, mais distante ficará o cumprimento de sua missão. Jesus se aproximava dos "doentes", dos pecadores, dos publicanos, das meretrizes... O Mestre se aproximava das pessoas, do mundo, sem se contaminar, sem se tornar parte de seu estado alienado e de inimizade com Deus. A Igreja precisa estar apta a realizar sua missão em qualquer lugar do mundo; necessita de firmeza para ser luz em qualquer lugar do mundo. Reitero: o cristão amadurecido fala de Deus no meio de outros deuses (At 17.23), sabe comer, beber e ouvir músicas para a glória de Deus (1 Co 10.31).
Portanto, creio que um cristão comprometido com a Palavra de Deus pode estar em qualquer lugar, com qualquer pessoa, em qualquer circunstância, e ainda assim se guardar incontaminado. Essa é a religião pura e sem mácula (Tg 1.27). Creio que um cristão maduro em sua fé possa assistir um rodeio, beber, comer e festejar, com ou sem sua família, sem pecar. Agora, se há fraqueza espiritual, problemas com testemunho, medo das ciladas do inimigo, paixão por esse mundo, desejo de pecar, é melhor que não participe; é bem melhor que não envergonhe o Evangelho de Jesus. É melhor fugir destas coisas.
Caro (a) leitor (a), não vá ou não a uma festa por outros. Vá ciente de que "todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas... todas são lícitas, mas nem todas edificam (1 Co 6.12; 1 Co 10.23). A decisão é sua, mas sempre precisa ser para a glória de Deus.
Rev. Ângelo Vieira da Silva
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