É praticamente impossível encontrar alguém que não tenha assistido ou lido algo a respeito do espetacular “Os Vingadores” (The Avengers, 2012), filme da Marvel Studios. Os mais antenados sabem que se trata de uma das maiores bilheterias do cinema, repleto de prêmios e indicações, de interligados conceitos e incríveis efeitos especiais. Há muita ação e emoção nessa obra de ficção, é verdade... Porém, é o humor que muitas vezes nos chama a atenção. No filme, esse atinge seu clímax na luta final entre Hulk (super-herói) e Loki (deus nórdico das trapaças, filho de Odin). Após cair, depois de esnobar a flecha lançada pelo Gavião Arqueiro, Loki é empurrado por Hulk para dentro da Torre Stark e brada arrogantemente: “Já chega! Vocês são todos inferiores a mim! Eu sou um deus, criatura ridícula! E eu não serei parado por um...”. O diálogo é interrompido por uma sequência de golpes do Gigante Esmeralda sobre o franzino deus que, arremessado de um lado para o outro, fica no chão, humilhado, quebrado e com dores. Hulk o deixa ali dizendo: “deus fraco”. Uma cena hilária!
Quem poderia imaginar que o conceito de um “deus fraco” não seria exclusivo da ficção. Ora, a realidade é que, ao longo da história, muitos homens tentaram diminuir o único e verdadeiro Senhor, Aquele que é chamado de Todo-poderoso, o Altíssimo de Israel, o Deus do Cristianismo. Suscitaram a controvérsia da encarnação do Verbo, na qual Deus teria se enfraquecido por se tornar homem. Incitaram o engano modalista, na qual Deus teria se enfraquecido por ser triúno. Argumentaram a favor do livre-arbítrio pelagiano, na qual Deus teria se enfraquecido por sua graça ser resistível ao homem. Pregaram uma teologia de prosperidade, na qual Deus teria se enfraquecido por ser obrigado à abençoar. Enfim, muitas foram as controvérsias que, essencialmente, fazem o El Shaddai parecer um “deus fraco”.
Não se surpreenda, portanto, se alguém mencionar que “Deus tem um ponto fraco”. Infelizmente, na sincera tentativa de aproximar o sentido das Escrituras Sagradas para os cristãos incautos dessa geração, muitos incorrem no erro teológico, no ensino danoso, fundamentados em uma interpretação superficial do texto bíblico. Para esses, quando se trata de você, se trata do ponto fraco de Deus. “Ah, irmão... Vai ler Bíblia!”. Seria o Salmo 51.17b uma declaração da fraqueza divina? Será que Deus derramar sua graça e perdão após nosso arrependimento constitui seu ponto fraco? Não o creio.
“Coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus”, registra o pecador Davi (as traduções mais comuns são “não desprezarás” e “não rejeitarás”). Ao que parece, um coaching aqui vê um ponto fraco de Deus, mas um cristão estudioso só vê pontos de sua força e poder. Comecemos pelo cerrado coração humano (Sl 17.10). Ele é enganoso, desesperadamente corrupto (Jr 17.9). Ora, para Deus não rejeitar esse coração, precisa transformá-lo (Hb 10.22), fazê-lo novo (Ez 11.19; Ez 36.26). Ele é maior (1 Jo 3.20)! É a força de sua misericórdia em ação! É por isso que o cristão verdadeiro é bem-aventurado (Mt 5.8). Se um coração é compungido e contrito o arrependimento é uma realidade. Ora, o homem pecador tem dura cerviz (Dt 10.16; Jr 7.26; At 7.51), seus pensamentos e caminhos não são os mesmos do Senhor (Is 55.7). Entretanto, quando a graça irresistível de Deus lhe toca, a fé salvadora lhe proporciona um arrependimento genuíno (At 11.18; Rm 2.4; 2 Co 7.9). Tudo veio de um Deus forte, que sustenta os fracos por sua graça (2 Co 12.9-10). Finalmente, Deus não despreza ou rejeita o que Ele mesmo planejou e executou, criou e amou. O homem natural despreza a Deus, rejeita os seus profetas. O novo homem, nascido de Deus, glorifica Aquele que o alcançou. Simples assim. Davi sabia que era pecador, que não podia se salvar. Ele compreendia que Deus não rejeitaria um coração arrependido. Por isso, basta-nos compreender a petição anterior do rei: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (Sl 51.10a).
Há muitos heróis, anti-heróis e vilões que humanamente podem ser vistos como “deuses fracos”. Ah, o calcanhar de Aquiles, a kryptonita ou a magia para o Superman, um Thor distante do seu martelo Mjolnir, o medo de amarelar para os Lanternas-verdes, a poluição para o Capitão Planeta, os olhos abertos do Ciclope, as mãos atadas/submissão da Mulher-Maravilha, o reator Arc do Homem de Ferro, a humanidade do Batman... Enfim, todos são altamente poderosos como o deus nórdico da trapaça. Todos podem ser subjugados por outros. Não são deuses. Não são eternos. Não são onipresentes, oniscientes ou onipotentes. Possuem limitações. O Deus que mudou nosso coração não é assim. Leia o Salmo 139 e aprenda. Ele é um Deus Forte.
Rev. Angelo Vieira da Silva
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