QUANTO TEMPO JEJUAR?


“Coisas boas podem causar grandes males”. Essa frase do batista calvinista John Piper é extremamente relevante no contexto de compreensão acerca do tempo de jejum. Ora, aquilo que é uma prática intensamente benéfica para o povo de Deus, pode causar extremos problemas se não for cuidadosamente ensinada e compreendida. É possível competir veladamente com outros cristãos que jejuam, por exemplo. O dano estará firmado em se considerar mais espiritual o que jejua por tempo maior, em detrimento aos “fracos”. 

A partir do reconhecimento que o jejum bíblico é recomendado, quaisquer períodos de tempo atribuídos ao jejum deverão se limitar à mesma condição. Como será observado nesta pastoral, a Bíblia apresenta variados períodos de jejum e, as bênçãos decorridas da prática não estão associadas ao tempo de duração, mas ao sincero coração, não ao calendário, mas ao que é prioridade. O jejum jamais será mais “abençoador” pelo número estrito de horas, dias ou anos a qual pode ser praticado – como pensaria um fariseu (Lc 18.12) –, mas pela qualidade de tempo no qual é exercido, buscando a Deus de todo o coração e humilhação (II Cr 7.14).

Por outro lado, em um sentido prático, a constância do jejum possibilitará mais jejuns e por períodos maiores, como um condicionamento ou treinamento. Antes de qualquer outra inferência, vejamos alguns textos bíblicos que revelam os períodos de jejum praticados pelos servos de Deus: II Sm 3.35; Jz 20.25-26; II Sm 1.12; Dn 6.18; Lv 23.27; I Sm 7.6; Et 4.16; Ed 10.6; At 9.9, 19; I Sm 31.13; II Sm 12.16-18; Dn 10.3; Lc 4.2; I Re 19.8; Ex 24.18; Sl 109.24; Ne 1.4; Mt 9.15; Lc 2.37; At 14.23. Considerando esses e muitos outros textos da Sagrada Escritura, subscrevo que a variedade de períodos ensina que cada servo de Deus deve definir seu próprio período de jejum, sem regras fixas definidas a partir dos prazos apresentados na Bíblia, mas lembrando que:

1) O período da prática do jejum é de importância secundária. 

Bem mais importante que o período, é o propósito, a oração, a discrição, a cautela, a sinceridade, etc. As Escrituras apresentam vários íntegros períodos de jejum, desde horas até tempos indefinidos. O período não é determinante para a sinceridade, mas a sinceridade é determinante em seu período de jejum. À vista disso, a exortação divina registrada em Zacarias revela um povo que tinha tempo para jejuar, mas não era fiel; o profeta conclama à mudança (Zc 7.5; Zc 8.19). O que os une diferentes períodos de jejum é a fome por Deus, que extrapola os limites de qualquer calendário que se possa elaborar.

2. O período da prática do jejum é uma decisão pessoal. 

A despeito da possibilidade da convocação de um jejum para um determinado período, cada cristão deve levar em conta seus próprios limites e disponibilidade. Sim, a Escritura demonstra que muitos jejuns promulgados tiveram seu tempo determinado. Ora, quer dizer que seu jejum não pode continuar? Que se não for possível para alguém jejuar no tempo determinado estará pecando? Não creio, principalmente pelas atitudes de Saul (II Sm 14.24-32), legalista, e de Jesus, que falou de um tempo na qual jejuaríamos. Seja sábio ao administrar esse tempo, indeterminado na visão do Mestre.

Jejum não é barganha. Por isso, tenha cuidado com o legalismo que “nunca produz santidade genuína, apenas medo e hipocrisia, pois as pessoas passam a viver uma vida dupla”. Lembre-se do ensino paulino à Igreja em Colossos (Cl 2.20-24): “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade”.

Rev. Ângelo Vieira da Silva

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